“É uma emoção tão grande quanto, porém diferente ainda que a sala, a mesa e a cadeira sejam as mesmas, inclusive a cadeira é a mesma que meu pai usou quando foi prefeito”. Assim descreve Silvio Barros (PP) sobre o sentimento de retornar à prefeitura de Maringá após 12 anos. Ele foi prefeito em duas gestões, de 2005 a 2012, e assumiu o terceiro mandato em 1° de janeiro de 2025 após ser eleito em primeiro turno com mais de 65% dos votos válidos.
“Quando assumi a prefeitura pela primeira vez era outra realidade. Não existia Instagram, X ou YouTube. O que me preocupa não é o que mudou, e sim como será o mundo daqui quatro anos. Não podemos preparar Maringá para o futuro tratando os problemas do jeito que sempre foram tratados. Nossa gestão precisa ser nova, pioneira e inovadora”, diz.
Em entrevista em seu gabinete, Barros destacou as prioridades do início da gestão, falou sobre projetos, orçamento e exaltou a importância do diálogo e da colaboração entre poderes público e privado:
O aumento da população em situação de rua elevou o sentimento de insegurança, em especial entre os empresários da região central. Como pretende garantir mais segurança?
Colocamos o ônibus da Guarda Municipal lá, que faz monitoramento e reconhecimento facial utilizando as câmeras 360 graus. Isto já é um inibidor, mas o importante é fazer a revitalização prevista no Eixo Monumental. Só que o projeto precisa ser rediscutido com a participação dos empresários. A gestão passada fez a licitação, mas ao analisar o edital, nossa equipe sugeriu a suspensão para propor alterações no projeto. O projeto arquitetônico, por sua vez, é por concurso e para alterá-lo, precisa da autorização do autor. Este processo deve atrasar o investimento e a intervenção, porém estou convicto de que vale a pena atrasar um pouco e fazer algo mais adequado ao espaço.
A ideia é abrir um diálogo com a classe empresarial?
O projeto atual transforma o estacionamento no entorno da praça numa área de esporte. Não ter onde estacionar complica o comércio. Portanto, os empresários têm o direito de opinar sobre algo que vai influenciar diretamente o negócio deles. O que começou será concluído. Há compromisso da empresa de entregar as obras no entorno da Catedral este mês e outras duas etapas estão com previsão de entrega até maio. Na praça da prefeitura vai demorar um pouco mais porque estamos reavaliando essas obras.
Como frear o crescimento da população em situação de rua?
A Secretaria de Segurança fará operações nas regiões onde estas pessoas estão concentradas. Será uma abordagem simples para pedir a documentação e termos noção de quem são e o histórico delas. Quem não tiver documento, vai direto para a 9ª SDP (Subdivisão Policial) fazer a documentação. Com relação às operações, muitos vão fugir da possibilidade de serem abordados. Assim faremos a separação de quem está na rua por motivos circunstanciais e quer sair desta vida, e quem está na rua porque entende que ali é onde vai obter o resultado da sua manutenção. Estas últimas são as pessoas que representam mais risco à sociedade. Não queremos instituir um processo rígido, mas não ficaremos omissos.
Foi autorizado em janeiro o uso de armas de choque pelos agentes de trânsito. Esta medida melhora a segurança?
Qualquer tipo de armamento só será usado quando necessário. Se é necessário, depende do comportamento do outro, não do nosso.
Descentralização e informatização da gestão pública foram apontadas pelo senhor como essenciais ao desenvolvimento da cidade. Como tornar uma realidade?
Primeiro, trabalharemos o governo digital, ou seja, a prestação de serviços públicos à população de forma digital sete dias por semana, 24 horas. Nos últimos dias a praça de atendimento tem estado lotada e as pessoas têm esperado em média 1h30 para serem atendidas. E a maioria dos serviços está disponível no celular. A ideia não é que o cidadão esteja de um lado do guichê e o funcionário do outro. O funcionário estará ao lado, ensinando e depois que o cidadão fizer duas ou três vezes, saberá fazer sozinho. Muitos serviços podem ser oferecidos de maneira digital de forma eficiente, barata e rápida. Nosso objetivo é aumentar a carta de serviços digitais.
Qual o maior desafio da saúde e como melhorar o atendimento à população?
O mais desafiador é reestruturar o atendimento. Inicialmente, estamos fazendo diagnóstico de como atender melhor usando a estrutura e o que precisa de intervenção. Também vamos contatar todos que estão na espera por um procedimento médico para definir o grau de prioridade. Às vezes é um procedimento relativamente simples que com o tempo se torna complexo e, consequentemente, gera prejuízos maiores para nós e para o paciente. Definidas as prioridades, vamos organizar mutirões e fazer as contratações para atender essas pessoas. Há ainda medidas que dizem respeito ao uso de tecnologias. Estamos fazendo um mapeamento para escolher as mais interessantes e modernas para atender a população. Também vamos implantar o programa Saúde na Escola, começando pela vacinação. Há crianças com baixo desempenho porque não enxergam direito. O diagnóstico de problemas de visão e audição tem que ser feito na escola. Já temos parceiros para implementar o programa e resolvermos dois problemas: a criança sai da fila na saúde e o desempenho escolar melhora.
Outra fila que aguarda solução é a de corte e poda de árvores. Como solucionar a arborização?
Estamos fazendo operações aos fins de semana. A equipe resolve o problema da rua inteira. E por que fazer isso aos domingos? Às vezes, para retirar uma árvore grande é preciso o caminhão com guincho, que trava o trânsito. Agora este assunto tem outros desdobramentos e por isso estamos trabalhando na criação de um comitê. Vamos propor ao Codem a criação de uma Câmara Temática de Arborização.
O elo entre o poder público e a sociedade civil deve ser fortalecido na gestão?
Queremos propor ao Codem a criação de duas câmaras técnicas. Elas não precisam ser permanentes, porque, uma vez definida a estratégia entre sociedade e prefeitura, criaremos políticas públicas. A primeira temática é a arborização, porque há vários atores importantes neste processo, como prefeitura e Copel. O plano diretor de gerenciamento de arborização urbana e instituições acadêmicas também podem ajudar na definição de ações. A outra é sobre Autismo, e várias secretarias têm responsabilidade, assim como instituições e planos de saúde. Precisamos juntar este pessoal para discutir e encontrar um caminho bom para todos, principalmente para as famílias.
A Maringá Encantada, campanha que movimenta o comércio da cidade no final de ano, será mantida?
A iniciativa de fazer do Natal um momento de atração de pessoas da região para Maringá e de alavancagem do comércio local começou na minha gestão. Era o Natal Ingá que começou numa parceria com a Associação Comercial que, à época, cuidava da iluminação das árvores. Na gestão seguinte, o prefeito Carlos Pupin deu upgrade na campanha e a prefeitura assumiu a decoração da cidade. Depois o prefeito Ulisses Maia ampliou a campanha e de fato produziu resultado para o comércio. Esta iniciativa para fomentar a movimentação no fim de ano continuará com novidades, só não sei se com o nome Maringá Encantada.
Como o senhor avalia o orçamento deixado pela gestão passada?
O orçamento de 2025 prevê o mesmo valor de custeio até outubro de 2024. É óbvio que vamos gastar mais. Não tem como o custeio da prefeitura este ano ser mais baixo do que foi no ano passado. Então vai faltar dinheiro. Da mesma forma, para alguns precatórios que terão que ser pagos no final do ano, o valor colocado no orçamento não inclui os juros, mas o precatório precisa ser pago com o valor atualizado, logo vai faltar dinheiro para isto também. Isso drena a capacidade de investimento. Teremos que correr atrás de recursos para cobrir o custeio, fazer investimentos e atender as demandas da população. Sabíamos disso, mas não tínhamos como alterar o orçamento. Vamos lidar com isso do jeito que pudermos e fazer um esforço para buscar fontes de receita.
Também conta com recursos federais e estaduais para Maringá?
Em conversa com o governador no início da gestão, ele reafirmou que para bons projetos não vai faltar recurso. O presidente Lula tem dito o mesmo. Inclusive a Itaipu está distribuindo bilhões no Brasil e o diretor é de Maringá. Não temos que ficar preocupados com o governador ou o presidente. Temos que estar preocupados em fazer bons projetos. Desta forma os recursos virão.
Somando os vereadores do PP e partidos aliados, o senhor tem maioria na Câmara. Como deve ser a relação com o Legislativo?
Pretendemos encaminhar para a Câmara projetos estruturados passíveis de defesa e argumentação. Se houver embates, que vença o melhor argumento. Se houver uma proposta melhor do que a minha, não tenho problema de mudar de ideia. Não tenho apego a ideias e projetos. Tenho apego em fazer o melhor para a cidade.