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“Brasil deve crescer acima das expectativas do mercado”

“Brasil deve crescer acima das expectativas do mercado”

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O economista Joaquim Levy é otimista sobre o crescimento da economia brasileira. Para o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), “as exportações e provavelmente os investimentos devem impulsionar o PIB em 2025”, levando a economia brasileira a crescer próximo de 2,5%, como projeta a pasta liderada por Fernando Haddad.

Diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados do Banco Safra desde junho de 2020, Levy possui extensa trajetória na administração pública e na iniciativa privada, tendo presidido o BNDES durante o governo de Jair Bolsonaro e conduzido o Ministério da Fazenda no governo de Dilma Rousseff. Entre 2015 e 2018 atuou como diretor no Grupo Banco Mundial e, ao longo da carreira, foi vice-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, economista visitante no Banco Central Europeu e exerceu funções diversas no Fundo Monetário Internacional. 

Com doutorado em Economia pela Universidade de Chicago e graduação em Engenharia Naval, em 2019 ele realizou pesquisas sobre crescimento sustentável como visitante na Blavatnik School of Government, da Universidade de Oxford, tema que tem defendido em sua atuação. 

Levy esteve em Maringá em outubro a convite da Acim, Banco Safra e Caf Capital, onde palestrou sobre o cenário macroeconômico para empresários e lideranças. Ele compartilhou impressões a respeito do crescimento do país, acentuando que parâmetros técnicos guiam a taxa básica de juros, além de abordar a interseção entre economia e sustentabilidade:

 

O Banco Central elevou em setembro a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 0,25 ponto percentual, passando para 10,75% ao ano. Foi o primeiro aumento desde agosto de 2022. Este aumento é a medida acertada para conter a inflação?

O Banco Central age à luz das informações que possui e dos dados da conjuntura econômica. Faz isso com grande profissionalismo e precisão e possui um corpo técnico bastante competente. Toma suas decisões através do Comitê de Política Monetária (Copom) de forma colegiada e da maneira mais democrática, levando em conta as considerações técnicas do momento. O interesse é sempre o de preservar a economia, suavizando as flutuações da atividade e emprego.

 

O que o mercado deve esperar em relação à Selic? 

A Selic deve continuar a responder às expectativas de inflação e à atividade econômica, que vem em ritmo forte até recentemente. Deve-se olhar para um horizonte relevante, que é o início de 2026, sempre levando em conta exclusivamente dados técnicos.

 

O Brasil aparece em sexto lugar entre os países que mais cresceram do G20, grupo que reúne as maiores economias do mundo, e o desemprego também mostra recuo, mas a percepção do brasileiro ainda é ruim. Por quê?

Há muitos indicadores positivos, mas as pessoas às vezes têm lembranças de viradas na economia. A percepção vai evoluir à medida que se evidenciar a perenidade dos indicadores-chave, inclusive fiscais, e sua consistência. O Brasil deve crescer acima das expectativas do mercado no começo do ano em 2024, o que é muito bom.


O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, projeta que a economia brasileira vai sustentar crescimento acima de 2,5% durante os quatro anos do governo Lula. Como o senhor avalia este índice?

A economia vem se apresentando bem e tem condições de seguir assim, apesar de sempre devermos estar atentos aos riscos macroeconômicos. O Safra, por exemplo, tem sempre uma visão positiva em relação ao futuro. Atravessamos todas as intempéries da economia, os choques, os grandes planos de estabilização e seguimos fortes rumo ao futuro como uma instituição de destaque e permanência no cenário nacional. Estamos sempre buscando ajudar as empresas e os investidores do país na condução dos melhores caminhos para seu desenvolvimento. Acreditamos no potencial de vários segmentos da economia, do agro à mineração, serviços e na força do povo brasileiro e sua enorme capacidade criativa e empreendedora. As exportações e provavelmente os investimentos devem impulsionar o PIB em 2025, levando-nos próximos a 2,5% de crescimento.

 

O Brasil vive uma temporada sem precedentes de queimadas ambientais. Qual o impacto disso para a economia?

Sou um apaixonado pela chamada economia verde e muito atento à mudança climática que tem levado a queimadas recordes no Canadá, Europa etc.. Não escapamos desse risco e temos que estar mais preparados para enfrentar essas situações. O impacto da mudança do clima pode ser muito grande no Brasil, que depende tanto da natureza. É preciso que haja um trabalho importante de conscientização e também de prevenção, que começa nas empresas, nos conselhos de administração em todo o Brasil.


O senhor participou do desenvolvimento de pesquisas sobre tecnologias sustentáveis e transição de economias para emissões líquidas zero de carbono na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Qual a importância das tecnologias sustentáveis para a economia global e do Brasil?

O Brasil tem muitas vantagens na transição energética, ou ecológica como prefere o Ministério da Fazenda. Tanto na área de biocombustíveis do HVO [Hydrotreated Vegetable Oil] de dendê ou diesel verde de soja quanto na forma de etanol e o biometano. E há oportunidades em ‘bioeconomia’, como o biochar [biocarvão] a partir de arranjos na lavoura, pecuária e floresta e eventuais produtos da ‘química’ da floresta, se o Brasil avançar em certas linhas de pesquisas. O boom na mineração está apenas começando, com níquel, terras raras, potássio, fosfato. E as formas de se reconhecer a contribuição da agricultura para o sequestro de carbono no solo e preservação da água estão só começando. No Paraná a experiência de recuperação de pastagens e melhor uso de terras marginais são também muito promissoras. E isso vale também para o Mato Grosso do Sul, onde a floresta comercial tem sido um enorme sucesso. E, claro, há todas as energias renováveis convencionais, como eólica e solar, além da gestão integrada de hidrelétricas e renováveis. Enfim, a transição energética pode impulsionar nossa economia e proteger a produção do campo. Que planejamento e integração com a natureza são importantes não deve surpreender ninguém em Maringá, onde todo mundo aproveita das maravilhosas árvores em todas as ruas. Agora, essas coisas evidentes são chamadas de ‘serviços ambientais’, e isso tem enorme valor, o que é ótimo... O Brasil está bem nessa corrida, mas temos que nos organizar para não perder as vantagens que conquistamos.

 

É possível dissociar a sustentabilidade da economia ou a tendência é que as duas se aproximem mais?

Não é mais possível falar de economia de forma dissociada da sustentabilidade. Em todo o mundo o tema economia verde é muito discutido porque as duas coisas precisam caminhar juntas. Já foi o tempo em que cuidar das questões de meio ambiente representava paralisar determinados segmentos. É possível, sobretudo a partir das tecnologias e das inúmeras pesquisas, promover a economia num contexto mais amplo em que a sustentabilidade ambiental é companheira da sustentabilidade financeira.