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Automação é realidade no varejo local

Automação é realidade no varejo local

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Jorge Yokoyama, da Hachimitsu e franqueado Spoleto: “quando se fala em automação, as pessoas pensam em redução de mão de obra, enquanto o maior benefício é o aumento da produtividade”

Inaugurada há um ano, a primeira loja autônoma de Maringá, a sorveteria Gela Boca Autô, abriu caminho para que novas operações do tipo surgissem na cidade, como loja de pelúcias automatizada e pet shop híbrido recém-inaugurado. Além disso, totens, tablets e celulares estão mais presentes no varejo, em restaurantes e cafeterias.

Empresário de alimentação há 28 anos, Jorge Yokoyama garante que a automação nas operações à la carte representa um ganho de eficiência e aumento de vendas de cerca de 30%. “Quando se fala em automação, as pessoas pensam em redução de mão de obra, enquanto o maior benefício é o aumento da produtividade”, diz. Ele explica que, com o uso da tecnologia, é mais fácil sugerir, por exemplo, uma sobremesa ao cliente, algo que nem sempre os colaboradores se lembram de fazer.

Outra vantagem é o tempo de atendimento, que se reflete diretamente nas vendas. Segundo Yokoyama, nas unidades da franquia de massas Spoleto administradas por ele, a automação permite que o colaborador permaneça o tempo todo na cozinha, o que torna o preparo dos pratos mais rápido e, consequentemente, reduz as filas e atrai mais clientes. “O consumidor quer agilidade, então, quando ele chega a um local, o atendimento é lento e a fila é grande, ele vai embora em busca de outra opção”, esclarece.

O empresário destaca ainda a geração de dados da automação, como tíquete médio, lista de produtos mais vendidos e preferências de consumo. “Isso dá 100% de controle ao empresário que, munido dessas informações, pode traçar estratégias e redirecionar o fluxo de trabalho”, explica. No entanto, ele alerta que o bom atendimento nas outras áreas da empresa continua sendo primordial. “O sorriso ainda é o arroz com feijão, o básico que funciona e que o cliente valoriza”, diz.

Em relação à aceitação do autoatendimento, o empresário afirma que poucas pessoas têm dificuldade de usar os dispositivos e, se necessário, os atendentes auxiliam. 

Em 2019, quando inaugurou a unidade da Hachimitsu da avenida São Paulo, fez questão de incluir o autoatendimento na cafeteria, por meio de um tablet disponível nas mesas. “Fomos os primeiros em Maringá a aderir a este modelo, que é bastante difundido em outras cidades do mundo, como Nova York”, diz.

Como na época, Yokoyama não encontrou em Maringá uma empresa que fizesse a automação, encontrou os profissionais em Cornélio Procópio. 

Hoje, a realidade é diferente. A Automizei é uma das empresas que trabalha com automação no varejo em Maringá e outras cidades do estado, como a capital Curitiba, onde foram inauguradas dez livrarias 100% autônomas.

Alta demanda


João Felipe Moreira e João Falavigna, da Automizei, vão instalar mil geladeiras autônomas até o início do ano que vem: “a demanda está alta para nós”

Foi a experiência em marketing e em tecnologia dos sócios João Felipe Moreira e João Falavigna que deu vida à Automizei, que, com um ano e meio de atividade, registra alta procura pelos serviços. Eles são responsáveis pela implantação da primeira loja autônoma de Maringá e estão com a agenda cheia por um bom tempo. Além de livrarias autônomas em Curitiba e de 15 lojas de pelúcias no Paraná, São Paulo e Santa Catarina, os sócios acabaram de concluir o projeto de um pet shop híbrido em Maringá e trabalham para instalar, até o começo do ano que vem, mil geladeiras autônomas pelo país.

De acordo com Moreira, as lojas autônomas oferecem vantagens aos empresários, como redução de custos com mão de obra e do risco de passivo trabalhista, aumento de receitas, ampliação do tempo de venda e visibilidade, já que esta modalidade, por estar em alta, permite ações de marketing robustas em vários formatos e mídias.

Para quem se preocupa com a segurança, o empresário explica que, para acessar o local, o cliente precisa baixar um aplicativo e fazer cadastro prévio. Além disso, os estabelecimentos são monitorados 24 horas por dia em tempo real. Ou seja, tanto é possível falar com a equipe de suporte para pedir ajuda a qualquer hora, como pode haver intervenção em caso de necessidade ou má conduta na loja. “Um dos nossos desafios é desmistificar a questão da segurança. Por isso, sempre lembramos que nas lojas não há dinheiro e as luzes ficam acesas o tempo todo”, afirma.

O empresário revela que, em Maringá, no período de nove meses, uma única unidade autônoma fez cerca de 20 mil vendas somente na madrugada, ou seja, foram mais de 70 vendas diárias após as 22h. “Este número demonstra como temos espaço para crescer”, afirma. Uma das apostas para o crescimento das lojas autônomas é principalmente a geração Z, a mais familiarizada com a tecnologia e, portanto, um público potencial para fidelização. “Nossos dados indicam que o horário de maior movimento nas lojas autônomas é das 22h às 2h”, diz.

Para a Automizei, o desafio agora é conseguir atender a demanda crescente. “Como ainda são poucas empresas especializadas na área, a demanda está alta para nós, mas acredito que dentro de pouco tempo a realidade estará diferente, com mais concorrência”, diz.

Modelo híbrido


Cláudio Borella acabou de inaugurar uma loja híbrida da Vida Animal, com atendimento presencial de dia e autônomo à noite 
Há 29 anos no mercado pet, o empresário Cláudio Borella, sócio de sete unidades da clínica veterinária e pet shop Vida Animal, resolveu investir em automação e acaba de inaugurar a primeira loja híbrida da cidade. Considerada de pequeno porte, com 140 metros quadrados, a operação fica anexa ao estacionamento do McDonald’s da avenida Tuiuti e funciona com funcionários durante o dia e de forma autônoma à noite e madrugada.

“Na clínica 24 horas, que fica na avenida Nildo Ribeiro, é comum os clientes perguntarem se podem comprar ração ou outros itens à noite ou de madrugada”, diz. Ele explica que até gostaria, mas é impedido por determinação do Sindicato dos Empregados no Comércio de Maringá. “Agora teremos um espaço adequado para esta finalidade”, diz. 

A intenção é inicialmente vender rações, petiscos e brinquedos de forma autônoma e, depois, acrescentar vermífugos, antiparasitários e outros medicamentos que não precisam de prescrição. “Dando certo o modelo híbrido, quero implantá-lo nas outras unidades de Maringá e Ivaiporã”, afirma. 

A Vida Animal gera 70 empregos, entre profissionais de banho e tosa, vendedores, administrativos e serviços gerais. Com a chegada da loja híbrida, o empresário não acredita em redução de mão de obra, afinal, a nova loja tem funcionários durante parte do expediente e à noite e madrugada, a empresa terceirizada que cuida da operação mantém um time de suporte e monitoramento em tempo real. 

“Estou confiante que a automação no varejo será um caminho sem volta, por isso acredito que será uma experiência de aprendizado, que vai agregar na nossa relação com o cliente e na forma de fazer negócio”, diz.

Cheque como moeda


No Shopping Atacadista Vest Sul mais da metade das vendas é paga em cheque, conta o administrador Adriano Moraes Monteiro
Enquanto a automação caminha para se tornar algo comum, ainda há locais onde o cheque tem espaço garantido. Há 34 anos em atividade, o Shopping Atacadista Vest Sul tem as folhas de cheque como uma moeda que ajuda no capital de giro de parte das 122 lojas de vestuário instaladas lá. De acordo com o administrador Adriano Moraes Monteiro, as vendas com cheque representam mais da metade das transações do shopping.

“Ainda que haja um movimento para eliminar o cheque do mercado, para nós, ele tem o objetivo de melhorar a concessão de crédito e o capital de giro para compradores e vendedores, além de minimizar os custos de operações financeiras”, afirma. Ele reconhece que, com esta modalidade, há cheques sem fundo, erros no preenchimento e até má conduta no uso.

No entanto, o uso do cheque não impede ações de digitalização nas lojas. Segundo Monteiro, cerca de 60% das vendas ocorrem de forma híbrida, ou seja, iniciam no meio digital e são finalizadas no presencial. Para isso, os lojistas apostam em e-commerce, em live shops pelo Instagram ou YouTube e tráfego pago para conversão de vendas no WhatsApp. “Estimo que, hoje, aproximadamente metade das lojas está investindo em tráfego pago”, diz.

Monteiro afirma que o shopping trabalha em um projeto que, entre outras ações, vai implantar uma nova forma de crédito, uma espécie de cooperativa com mais segurança, que fará frente ao uso do cheque. O projeto, que tem a parceria do Sindvest e outras instituições, tem como objetivos capacitar os lojistas e ajudar empresas de moda a se manter no mercado de forma sustentável. Para isso, haverá um trabalho intenso para ensinar técnicas de gestão e finanças para empresários da área.

“No Brasil, o vestuário tem taxa de mortalidade de 30% em cinco anos, por isso, nosso objetivo é trabalhar com um amplo programa de capacitação para os lojistas, que vai incluir reality show, programa de TV, podcasts, tours de prospecção, imersões e um evento anual para mostrar cases de sucesso”, afirma.