Aleksandro Montanha: “o que deve ser discutido é se investimos no desenvolvimento da educação ou se criamos uma barreira de postos de trabalhos que, invariavelmente, serão substituídos por robôs”
Em 2014, Stephen Hawking, um dos mais importantes cientistas do mundo, disse que o desenvolvimento da inteligência artificial (IA) total poderia significar o fim da raça humana. Na contramão, o especialista Rollo Carpenter, criador do Cleverbot, cujo software aprende a imitar conversas humanas, ressaltou o potencial da IA para resolver problemas globais.
Fato é que a inteligência artificial, termo genérico para aplicações que executam tarefas complexas que antes exigiam interação humana, está avançando. Segundo o relatório Artificial Intelligence, publicado pelo site Statista, a receita do mercado de softwares de inteligência artificial deve crescer 35% ao ano até 2025, atingindo US$ 126 bilhões.
O empresário e especialista Aleksandro Montanha explica que a inteligência artificial como apresentada hoje é uma evolução de algoritmos de processamento e correlacionamento de dados, com crescimento de aplicações. “Recentemente, o ChatGPT, algoritmo de inteligência artificial generativa, capaz de produzir conteúdos como textos, imagens, áudios e dados sintéticos, despontou com resultados significativos e impactantes no dia a dia das pessoas. Portanto, o conceito de inteligência artificial mais aceito é aquele que, de alguma forma, está diretamente ligado ao uso popular de seus recursos, como o ChatGPT”, diz o especialista – que formulou a explicação com a ajuda da ferramenta descrita.
Montanha desenvolve soluções que estão diretamente relacionadas ao emprego de inteligência artificial. “Meu principal produto, um semáforo inteligente, depende da capacidade de realizar tarefas de identificação de veículos e pedestres em tempo real e isto, hoje, é possível devido ao emprego de tecnologias que utilizam inteligência artificial para analisar as imagens das câmeras instaladas no cruzamento”.
Segundo Montanha, o ensinamento é que se deve evoluir com o mercado. “Estamos no limiar de mudanças importantes da relação do homem com o trabalho. Logo, o que deve ser discutido é se investimos no desenvolvimento da educação, para que nossa sociedade possa aproveitar tal advento e crescer, ou se criamos uma barreira protecionista de postos de trabalhos que, invariavelmente, serão substituídos por robôs”, avalia.
Atendimento ao cliente
A Impulsefy ajuda as empresas a se conectar com o público por meio de atendimento performático e ferramentas de qualificação de clientes. A guinada com a adoção da IA veio recentemente, quando a empresa iniciou a criação de um software para melhorar a conversão de vendas. “Começamos a trabalhar com marketplaces, e-commerce e sites. E vimos na IA uma oportunidade de fazer mais”, diz o líder da startup, Weslen Farias.
“Começamos a trabalhar com marketplace, e-commerce e sites. E vimos na IA uma oportunidade de fazer mais”, diz Weslen Farias, da Impulsefy
Antes, a empresa criou uma ferramenta de marketing conversacional, um chatbot, que ajudou a conversão de vendas aumentar de 5% para 16,88%. “O chatbot tem um fluxo de conversa estruturado, mas não tem flexibilidade para se conectar com outros softwares e realizar operações de atendimento, agendamento e venda na totalidade. Com a IA, treinamos a conversação de quatro formas. Os clientes nem percebem que não estão falando com humanos. Acreditamos que esse é o fator do recente aumento de conversões”, explica Farias.
Na esfera do conhecimento, a empresa ensina à IA sobre seus processos, ao alimentar a ferramenta com informações; em habilidades, a IA é preparada para conectar em ERP (software de gestão), compreender áudios e outras formas de comunicação; o parâmetro personalidade corresponde ao modo como vai se relacionar com as pessoas em linguagem amigável. Por fim, a ferramenta é configurada para responder a praticamente todas as dúvidas dos clientes. Em raros casos, a conversa é redirecionada para um humano.
“Um cliente tinha sete profissionais no suporte e hoje tem dois, porque a maioria das chamadas que a equipe recebia eram tarefas que conseguimos fazer com que a IA assumisse. Conseguimos, inclusive, colocar regras de negociação para a ferramenta fechar negócios”, conta.
A Impulsefy tem sete colaboradores e está presente em estados como São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso. Integrante do programa da aceleradora maringaense Evoa, a expectativa é ampliar o número de clientes exponencialmente nos próximos anos.
GPT Maker
O Grupo Irrah, com sede em Cianorte e operação em Maringá, é especializado em soluções para gestão de lojas e automação de atendimento e marketing via WhatsApp. Recentemente, anunciou o GPTMaker, uma solução baseada em IA que promete revolucionar a forma como as empresas se relacionam com os clientes.
Segundo o CEO César Baléco, o GPTMaker possibilita que qualquer empresa possa criar e treinar o próprio assistente virtual cognitivo baseado no GPT-4 (modelo de linguagem multimodal criado pela OpenAI e o quarto modelo da série GPT).
“Se olharmos para a mão de obra, profissionais que não se atualizarem, perderão empregos não para a IA, mas para quem sabe utilizá-la”, diz César Baléco, do Grupo Irrah
Para oferecer essa solução, a empresa firmou parceria com grandes produtores mundiais de Inteligência Artificial, como a OpenAI. “Temos um contrato de compra de créditos que nos permite fornecer utilização ilimitada aos nossos clientes”.
A combinação dos mais de 175 trilhões de parâmetros computacionais do GPT-4, com o treinamento focado no negócio da empresa e a integração com os sistemas utilizados no dia a dia, promovido pelo GPTMaker, segundo Baléco, “transforma a solução em uma poderosa ferramenta, capaz de se relacionar, tirar dúvidas e até vender”.
A ferramenta foi lançada com 300 assistentes virtuais e já atende 700. O objetivo é chegar a mil nos próximos meses – há uma fila de espera de quatro mil pessoas. Entre os clientes do GPTMaker está a prefeitura de Tijucas do Sul/PR, com o assistente virtual Dino, que atende os moradores e resolve problemas como emissão de segunda via de carnê de IPTU, registro de buracos nas vias, abertura de tíquete de reclamação e envio ao usuário.
“Nosso sócio, Mateus Miranda, lidera a parte técnica do trabalho. Contamos com uma equipe de quatro pessoas dedicadas ao GPTMaker. Nossa expectativa é alta. A IA é uma realidade, e as empresas que não a utilizam se tornam menos competitivas operacionalmente. Se olharmos para a mão de obra, profissionais que não se atualizarem, perderão empregos não para a IA, mas para quem sabe utilizá-la”, diz.
Apoio às indústrias
De Mandaguari, Arthur Paschoalatto, formado em Engenharia da Computação, está para concluir a formação no Programa de Residência em Inteligência Artificial do Instituto Senai de Tecnologia da Informação e Comunicação. Na função, sua principal missão é pesquisar e ajudar a desenvolver projetos de IA para indústrias que não tiveram contato com esse tipo de tecnologia e as que possuem experiência com machine learning.
Athur Paschoalatto, do Instituto Senai: “a IA abrange variedade de aplicações, incluindo automação avançada e robótica”
“As empresas chegam com uma ideia que não sabem executar, os residentes se debruçam sobre a proposta, pesquisam, testam, e a empresa pode dar continuidade ao projeto e incorporar a experiência na rotina de trabalho”, explica.
Um dos clientes do programa é da área automotiva. Paschoalatto diz que ajudou a analisar dados, métodos, relatórios e, com base nas informações, propôs testes e hipóteses de aplicação de IA: o objetivo é, com os dados do motor, prever manutenção preventiva de baterias e economizar dinheiro. Também na área automobilística, outro cliente solicitou um projeto para reduzir o tempo de calibração de um componente de motor. “Essa calibração demora cerca de seis meses, e a empresa apareceu com o desafio de reduzirmos para cinco. Foi necessário treinar uma IA para realizar o mapeamento matemático, no qual os cálculos dos valores são executados para a calibração”.
A demanda vem de negócios de setores variados e boa parte está relacionada às áreas de marketing, comércio e inteligência de mercado. “A IA abrange variedade de aplicações, incluindo automação avançada e robótica. É viável treinar diversos tipos de redes para alcançar resultados. A IA viabiliza a análise estratégica de dados para decisões inteligentes e otimização de processos.”
O que quer o consumidor?
O primeiro artigo científico de IA, “Computing machinery and intelligence” (Máquinas de computação e inteligência), foi escrito em 1950 pelo cientista da computação Alan Turing. No trabalho, o autor discutiu a possibilidade de os computadores simularem um comportamento inteligente, com capacidade de pensar.
“As máquinas ainda precisam ser alimentadas com informações.”, explica Fernando Gibotti, especialista
“A genialidade de Turing está no fato de que sequer existia computador pessoal, somente supercomputadores, muito menos chats conversacionais ou buscadores de informações. Ele imaginou a possibilidade de conversas em linguagem natural e cravou que haveria máquinas com inteligência similar à humana”, explica Fernando Gibotti, doutor em Computação Aplicada e especialista em comportamento e tendências de consumo.
O especialista diz que a IA permeia as discussões sobre computação desde então, mas aplicações começaram em 2010, com novidades na área de marketing de grandes companhias. “Segundo a definição original de Turing, para ser IA, a máquina precisa ter capacidade de pensar sozinha. Temos avanços nesse sentido, com a automação e linguagem natural, mas as máquinas ainda precisam ser alimentadas com informações. Temos ‘pedaços’ de IA que funcionam bem, como a robótica e ferramentas conversacionais”, explica.
Para aproveitar o melhor da IA, Gibotti acredita que os varejistas precisam compreender que a sociedade, a tecnologia e os meios de pagamento estão evoluindo. “O primeiro ponto é que tudo converge para as transformações na interação de consumo. Quais produtos as pessoas estão consumindo, quais elas adotam e quais abandonam? Quais elas querem possuir e quais querem simplesmente usar? O quanto e como as pessoas estão consumindo?”, indaga. Ele explica que ter isso em conta ajuda a aproveitar as ferramentas de produtividade e outras soluções de IA, algumas gratuitas, a exemplo das que ajudam a criar anúncios e artes para as redes sociais – outras pagas, como o Bnex CRM, ajudam o varejista a entender o perfil do público, fazer ofertas personalizadas e aumentar significativamente as vendas e margens de lucro.