Rogério Pereira, do Sicoob Metropolitano: “O consumidor só precisa ir à agência se fizer questão. Online é possível ter acesso a produtos e serviços, inclusive contratação de empréstimos”
A facilidade de pagar e receber em poucos segundos caiu no gosto dos brasileiros. O PIX, sistema de pagamentos instantâneos que começou a funcionar há pouco mais de um ano, tem adesão de 71% dos brasileiros e aprovação de 85%, segundo a pesquisa encomendada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban). De acordo com o levantamento, entre os jovens de 18 a 24 anos a aprovação chega quase a totalidade dos entrevistados, 99%.
Segundo o head de Inovação do Sicoob Metropolitano, Rogério Pereira, 80% das transações na cooperativa são online. “O comportamento e as necessidades do consumidor mudaram e nós, enquanto instituições financeiras, precisamos adaptar processos para garantir a melhor experiência”, diz. Pereira explica que, dentre vários, dois fatores impulsionaram a adesão ao PIX e ferramentas digitais: os incentivos do Governo Federal e do Banco Central para a digitalização do mercado financeiro e a pandemia, que trouxe aos clientes restrições e o receio de frequentar agências e outros espaços.
Focado na experiência do cooperado, o Sicoob quando lida com a digitalização de processos, tem como lema: ‘transações digitais e relacionamentos análogos’, ou seja, para a cooperativa, a tecnologia está a serviço dos usuários e deve simplificar o dia a dia. “Nossos canais de atendimento digital, que são o chat do aplicativo, o WhatsApp e o internet e mobile banking, são robotizados, mas monitorados por colaboradores. Se em algum momento da jornada a tecnologia não solucionar o problema, a equipe está pronta para intervir e apresentar solução. O objetivo é não transferir 100% do atendimento para os robôs, mas manter a conexão e o atendimento humanizado”, explica.
Nos dois últimos meses do ano passado, 60% das contas foram abertas por meio do aplicativo. “O número nos surpreendeu e demonstra que a transformação digital está adequada às necessidades dos usuários. Com as ferramentas digitais, o consumidor só precisa ir à agência se fizer questão”, diz. Além da abertura de contas, Pereira destaca que a tecnologia tem permitido, cada vez mais, uma jornada integrada e simples. “Por meio dos serviços online é possível ter acesso a produtos e serviços da cooperativa, inclusive fazer a contratação de empréstimos”, afirma.
O maior desafio das instituições é a conscientização dos usuários sobre a prevenção a fraudes e golpes. “Segundo a Febraban, 70% dos golpes estão vinculados à captura de dados pessoais por meio da engenharia social, que consiste na manipulação do usuário para que ele forneça informações confidenciais, ou seja, a pessoa é induzida a informar códigos e senhas para estelionatários”, comenta. No entanto, segundo Pereira, as instituições não podem se isentar de buscar mecanismos de proteção, como o uso do reconhecimento facial.
Open banking e moeda digital
Em fase de implantação, o Open banking permitirá a padronização do compartilhamento de dados e serviços financeiros por instituições autorizadas pelo Banco Central. Isso se dará por meio da abertura e integração de plataformas e infraestruturas de tecnologia. Esse movimento garantirá aos clientes poder sobre as informações armazenadas pelos bancos com a possibilidade de autorizar o compartilhamento com outras instituições. De modo geral, segundo Pereira, o Open banking aumentará a competitividade do setor, já que os usuários poderão comparar taxas e contratar players que não sejam necessariamente instituições financeiras.
Outro tema que tem ganhado destaque é a implantação da moeda digital. A previsão do Banco Central é que por meio do lançamento de um laboratório de tecnologias sejam feitos testes com o Real Digital até 2023, inicialmente com segmentos limitados de clientes. Pereira explica que a moeda digital é diferente de criptomoedas. “Quando falamos do Real Digital falamos de uma moeda equiparada ao real, com regulamentação e controle do Banco Central, diferente das criptomoedas que têm valor volátil e apresentam mais risco”, diz.
Queda de transações nas agências
Com 38 agências no Paraná e São Paulo, na Uniprime 80% das transações ocorrem de forma digital. “A cooperativa tem acompanhado o processo de modernização do segmento financeiro e investiu R$ 30 milhões em softwares, sistemas de segurança e servidores”, afirma o diretor de Riscos e Tecnologia, Julio Cesar Pires Furtuoso.
Na Uniprime, de cada cinco transações, quatro são digitais, conta o diretor Julio Cesar Pires Furtuoso
Para este ano, a cooperativa prevê novidades em relação ao PIX: saque, troco, cobrança e iniciador de pagamentos, além da modernização da usabilidade do internet banking e mobile banking. “Esses esforços visam a ampliar a rede de atendimento e portfólio por meio dos canais digitais. De cada cinco transações realizadas na instituição, quatro são digitais, representando mais de 25 mil acessos diários para pagamentos, contratação de crédito, investimentos, transferências e gastos com cartão de crédito”, afirma.
Com a migração massiva para os serviços online, Furtuoso relata uma redução drástica no volume de operações de outros tipos de transferências financeiras como TED e DOC, o que reduziu as transações feitas diretamente nas agências.
Tokenização
A transformação do mercado financeiro é um assunto amplo e tem permitido operações inéditas como a tokenização de ativos imobiliários. Os responsáveis pelo primeiro projeto dessa natureza no Brasil são de Maringá e representam a Bravo Empreendimentos, do setor de incorporações imobiliárias, e a Moreira Suzuki Advogados. Juntas, as duas empresas venceram o Real Estate Tokenization Challenge 2021, um concurso de nível global organizado pela Fibree, rede internacional líder em troca de conhecimento entre o setor imobiliário e da tecnologia de blockchain; e a BlockSquare, plataforma em Blockchain especializada em tokenização de ativos imobiliários.
Por meio da tokenização, que é a representação digital de algo que existe no real, foi possível ‘transformar’ um apartamento na planta em tokens e vender pequenos fragmentos. “Um apartamento de 100 metros quadrados, por exemplo, pode ser vendido por metro quadrado, ou seja, uma pessoa pode comprar um, dois ou cinco metros quadrados, de acordo com a disponibilidade financeira”, explica advogado Vicente Suzuki, do Moreira Suzuki Advogados.
Com um empreendimento imobiliário que comercializou tokens, o escritório de advocacia de Vicente Suzuki e a Bravo Empreendimentos ganharam um concurso internacional
Um dos modelos possíveis permite que compradores adquiram tokens de unidades na planta e, ao final da construção do empreendimento, o apartamento seja vendido e o valor do imóvel, somado à valorização, seja dividido entre os proprietários dos tokens de acordo com as cotas de cada um. “A tokenização permite a pulverização de investimentos: quem quer investir na compra de imóveis pode comprar tokens de diferentes empreendimentos sem precisar considerar as barreiras geográficas. Além disso, a desburocratização aumenta a liquidez desses ativos”, explica.
Segundo Suzuki, a tokenização é possível com base na legislação atual, mas ainda deve ganhar marco regulatório específico. De qualquer modo, já é possível vislumbrar a possibilidade dos tokens substituírem a papelada burocrática que envolve a aquisição de um imóvel, como contrato, assinaturas e registros em cartório, o que também reduziria os custos das operações. “Falando de forma simples, a intenção é que a compra de imóveis possa ser tão descomplicada e segura como fazer um pix”, afirma.
Para os consumidores, a tokenização democratiza o acesso à compra e permite a diversificação de ativos. Já para as empresas que atuam no desenvolvimento imobiliário traz independência, afinal, a venda por meio da tokenização não depende de financiamentos, que costumam ter trâmites burocráticos.
Compartilhamento de Imóveis
No caso da Mondonex, empresa fundada por André Buzzo, André Ribeiro e Marcelo Liberati, a aposta é na venda compartilhada de casas de lazer de alto padrão em Porto Rico/PR. Cada imóvel pode ter até quatro proprietários com o direito de uso por no mínimo uma semana no mês. “Por meio de inteligência artificial, o sistema distribui de forma justa os principais feriados e alta temporada, além disso, a agenda é visualizada e administrada por aplicativo próprio”, explica Buzzo.
André Buzzo, da Mondonex: empresa aposta em imóveis de lazer compartilhados, sendo que cada proprietário tem sua escritura
Entre as vantagens de comprar o imóvel compartilhado estão menor desembolso inicial, baixo custo fixo porque as despesas são rateadas e liquidez frente a imóveis tradicionais, além de serviços exclusivos oferecidos pela empresa. Em relação à segurança da compra, a operação está amparada pela Lei da Multipropriedade. “Por ser um modelo relativamente novo no Brasil, a multipropriedade costuma ser confundida com o ‘timeshare’, que normalmente é o modelo adotado por redes hoteleiras. São propostas totalmente diferentes”, explica.
Na multipropriedade, cada dono tem escritura individual e pode vender a cota, deixar como herança e lucrar com a eventual valorização, diferentemente do timeshare, em que o cliente adquire o direito de ter a hospedagem ‘comprando’ a semana de uso por determinado período. No timeshare depois de esgotado o período de uso, o cliente perde o direito de hospedagem, o que não acontece com a multipropriedade. “Simplificando, o timeshare é um jeito de vender diárias de um hotel de forma antecipada e durante esse tempo é garantido o direito de hospedagem”, esclarece.
Experiência inovadora
O uso da tecnologia está presente em praticamente todos as atividades dos imóveis da Mondonex. Pelo aplicativo é possível agendar a frequência a outros imóveis e assumir as datas, e as despesas do período, disponibilizadas por outros cotistas. É permitido ainda ceder o imóvel para amigos e familiares compartilhando um código de convite de acesso.
Em relação aos serviços, é possível fazer compras no supermercado pelo aplicativo sem custo adicional. As compras serão devidamente guardadas no armário e na geladeira. Limpeza e contratação de passeios também podem ser solicitadas com pagamento por cartão de crédito. Além disso, os imóveis são equipados e decorados e os proprietários têm o conforto de encontrar a casa limpa e organizada ao chegar - ao sair a limpeza fica por conta da empresa. “O consumo de energia, água e gás é medido individualmente e qualquer manutenção do imóvel é mediada pela Mondonex, ou seja, os proprietários não precisam se preocupar com a contratação de prestadores de serviços como jardineiro”, resume Buzzo. No total, são 50 imóveis compartilhados, entre casas, apartamentos, estúdios e lofts.