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De 12 a 190 mil automóveis, uma trajetória que inspira

De 12 a 190 mil automóveis, uma trajetória que inspira

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O ritmo do executivo de uma companhia listada na Bolsa é absurdo. Trabalho 12 horas por dia. Passo 20 dias por mês entre São Paulo e Belo Horizonte. Gostaria de ter mais negócios em Maringá, para quando não estiver mais apto a tocar esse ritmo ou ser superado nesta gestão

Em 2018 o empresário Dirley Ricci apareceu na lista dos dez clientes de maior valor da Gol. Foram 168 voos ao longo do ano, boa parte com destino a Maringá, sua cidade natal e até hoje endereço oficial. “Nunca pensei em deixar as minhas raízes”, afirma o executivo da Unidas que, por conta dos negócios, vive na ponte aérea São Paulo-Belo Horizonte, mas projeta uma vida tranquila na Cidade Canção no futuro. 

Foi aqui, afinal, que ele iniciou a trajetória empreendedora bem-sucedida. Recém-formado, juntou as economias para comprar 12 carros e abrir a Ricci Locadora. Vinte anos depois a empresa alcançava o posto de maior locadora do sul do país e uma das dez maiores do Brasil. 

Três anos depois, após um processo de fusão, a Ricci virou Locamérica e chegou à Bolsa de Valores. Em seguida, a nova companhia adquiriu a Unidas, tornando-se a segunda maior locadora de carros e a primeira em locação de frotas da América Latina, com quase 190 mil automóveis.

Atualmente a Unidas conta com 4,5 mil colaboradores, mais de 400 pontos de atendimento, é a 25ª melhor empresa para se trabalhar, segundo o ranking GPTW, sendo uma das 50 marcas mais valiosas do Brasil e desde janeiro integra o IBOV da B3.

Ricci faz parte do Bloco de Controle da Unidas, é diretor executivo de Gestão de Ativos e membro do Conselho de Administração. Também é sócio da Mafip Propriedades, especializada em locação de imóveis comerciais na região de Maringá, e da LBX, construtora especializada em imóveis residenciais de baixa e média rendas. 

Diante desta trajetória, não surpreende o assédio a Ricci que é abordado em eventos e até aeroportos por jovens interessados em dicas para empreender. “É muito agradável esse tipo de interesse”, diz o executivo que, ao ser questionado, dá três conselhos valiosos para o sucesso: “fazer o que gosta, separar as contas físicas da jurídica e resiliência”, ensina Ricci, eleito Empresário do Ano, prêmio concedido anualmente pela ACIM, Fiep, Apras e Sivamar - a solenidade de entrega será realizada ainda no primeiro semestre. Confira a entrevista:

Como decidiu abrir a Ricci Locadora?

Sou filho de agricultores e não queria trabalhar no campo. Então, enquanto cursava Administração de Empresas na UEM fazia negócios com carros. Comprava e vendia carros e descontava cheques para os lojistas. Quando me formei vi que não queria nenhum desses caminhos. À época li uma reportagem sobre Salim Mattar, fundador da Localiza, falando sobre locação. E a partir daquela reportagem percebi que poderia unir meus conhecimentos de finanças e automóveis, e em 1993 abri a Ricci Locadora. Por ironia do destino, tentei abrir uma franquia da Unidas, mas não fui escolhido. A Ricci começou como uma locadora de temporada em Balneário Camboriú/SC. O plano era fazer um teste durante a temporada de verão, vi que o negócio era bom, voltei para Maringá e transferi a locadora para cá. Juntei todo o meu capital, comprei 12 carros e reservei um pouco para capital de giro no primeiro ano de operação. 

Em um intervalo de 20 anos a empresa alcançou o posto de maior locadora do sul do país e uma das dez maiores do Brasil. Como descreve essa trajetória?

Começamos atendendo balcão e contrato de longo prazo. Em pouco mais de seis meses passamos a atender só longo prazo e nosso capital de giro se transformou em 20 carros. Fomos conquistando clientes porque a concorrência era ruim. As grandes redes tinham serviço bom e preço altíssimo. Outros concorrentes tinham serviço ruim e preço bom. Entramos com serviço e preço bons. Uma leva de locadoras surgiu à época, inclusive a Locarvel, de Belo Horizonte/MG, com quem nos juntamos em 2016. No ano 2000 começamos a nos unir com locadoras regionais, depois com uma maringaense e mais tarde com uma de Curitiba. Fomos crescendo a base e chegamos em 2016 com quase 16 mil carros, foi quando nos juntamos à Locamérica. Foram 20 anos reinvestindo o dinheiro na própria atividade, executando bons serviços e criando bons métodos, e os clientes nos premiaram com o crescimento. Há clientes que cresceram com a gente, que no início locavam cinco carros e hoje tem 500 carros locados. 

Sua aposta foi na fidelização e atendimento de qualidade? 

Exatamente. Mantivemos a carteira de cliente com confiabilidade, serviço de qualidade e preço justo, além de cumprir o combinado. Tínhamos pouca competitividade e pouco dinheiro para atacar, os clientes que conquistávamos não deixávamos ir embora. 

Como foi a chegada à Bolsa de Valores?

Em 2016 entramos em um dilema. Éramos grandes, mas não tínhamos competitividade. Falei para os meus sócios: ‘olha o preço que o mercado está pagando e o preço que nós pagamos no carro. Temos que encontrar uma solução porque vamos começar a deixar dinheiro na mesa’. Este foi um momento importante. Ou vendíamos a empresa ou nos juntávamos com uma maior, porque com menores não adiantava mais. A Locamérica sempre foi parceira de negócios, fundamos as empresas no mesmo ano, éramos consultores informais um do outro. Ela tinha aberto o capital em 2013 e as ações estavam sofrendo, precisavam de outro movimento. Quando dissemos que estávamos prontos para uma fusão, em 60 dias ela aconteceu. Eram duas empresas de tamanhos parecidos, mas a marca deles estava listada na bolsa e por isso tudo virou Locamérica. 

Então já pensavam na abertura de capital? 

Era o objetivo número um. 

Já tinha recebido propostas de outras empresas? 

Éramos bastante assediados porque o mercado entre 2015 e 2016 começou a se consolidar. Tivemos várias propostas, a maioria de compra. Entendi que na Locamérica iria ser sócio, estaria no bloco de controle e teria participação relevante na companhia. Foi isso que me fez ir para lá.

Teve receio de que a empresa perdesse a essência com a fusão?

Antes da fusão, nos reunimos com uma consultoria que avaliou processo por processo das duas companhias. Cada operação foi avaliada e discutida economicamente, processualmente e em termos de relacionamento com o cliente. Ao final prevaleceram os processos administrativos e financeiros da Locamérica. Já em relação aos processos operacionais e de relação com o cliente ficaram os da Ricci. Então, a ‘nova companhia’ manteve o DNA da Ricci. Isso foi muito satisfatório para mim. Inclusive, quando adquirimos a Unidas, foi feita outra consultoria e permaneceu o modelo Locamérica. 

Como foram as negociações para a fusão com a Unidas?

No final de 2017 a Unidas era uma empresa de controle difuso, eram cinco sócios, sendo dois internacionais e três fundos de investimentos, que tentaram vender a empresa na Bolsa e não deu certo. A empresa estava à venda e os nossos concorrentes estavam tentando comprá-la. Seis meses após a fusão da Ricci e Locamérica entendemos que a Unidas seria um grande diferencial porque ela era maior e, além do serviço de terceirização de frota, era uma grande locadora de rent a car (locação diária ou a curto prazo). Não medimos esforços e fechamos o negócio com os três fundos. Em seguida voamos para Lisboa e de lá para os Estados Unidos para negociar com os outros sócios. Fechamos a compra dando parte em ações e parte em dinheiro. Foi assim que nos tornamos a segunda maior locadora do país. 

O setor de locação foi impactado por mudanças comportamentais e tecnologia? 

Hoje a maior base de clientes é de motoristas de aplicativos. O Uber é um dos maiores parceiros comerciais da Unidas. Outra mudança que impactou o setor foi a substituição da posse pelo uso. Muitos clientes deixando de comprar para ter carro locado ou por assinatura. 

Além da Unidas, você tem negócios nas áreas de locação de imóveis e construção civil. Pretende investir em outros segmentos?

O ritmo do executivo de uma companhia listada na Bolsa é absurdo. Trabalho 12 horas por dia. Passo 20 dias por mês entre São Paulo e Belo Horizonte. Volto para Maringá aos finais de semana para ficar com a família. Gostaria de ter mais negócios em Maringá, para quando não estiver mais apto a tocar esse ritmo ou ser superado nesta gestão. Minha intenção não é apenas diversificar, mas ter com o que me ocupar em Maringá no futuro. 

E nesta correria, como concilia a vida pessoal e profissional?

Quando se tem uma área que toma tanto tempo da vida, outras ficam de fora. Acabei prejudicando um pouco as minhas relações com amigos porque divido o tempo entre trabalho e família. Estou trabalhando ou tentando ser um pai e um marido presente. Recentemente minha filha passou na faculdade em São Paulo e talvez isso adie um pouco mais a minha volta para Maringá. 

Você está à frente de uma das 50 marcas mais valiosas do Brasil. Falta conquistar algo?

Já alcancei mais do que poderia sonhar. Nem nos melhores sonhos pensei que seria sócio controlador de uma empresa desse tamanho, responsável pelo sustento de tantas famílias e por gerar tanta riqueza para o país e para os sócios. Obviamente que as metas são renovadas, mas em termos de objetivos me considero realizado. 

Tem algum sonho pessoal?

Já consegui realizar os principais sonhos, mas quero ter uma vida mais leve e trabalhar menos, passar mais tempo com a família. Também sinto que preciso transpor um pouco do meu empreendedorismo comercial para o social com projetos para combater a fome, o frio e ajudar novos empreendedores. 

Qual a sensação de ter sido eleito Empresário do Ano?

Num primeiro momento me assustou por causa da exposição. Sempre fui reservado. Depois que o presidente da ACIM me explicou que era uma forma de reconhecimento de muitas pessoas importantes decidi que tinha que aceitar para que o exemplo pudesse ser aproveitado. Confesso que meus olhos encheram de lágrimas quando soube que meu nome foi eleito por unanimidade, e que esta é a primeira vez que isso acontece.