Bruno Nunes, do Studio Bianco Arquitetura + Engenharia
É uma situação comum: concluir a faculdade e abrir o próprio negócio. Mas a prática se mostra mais desafiadora do que o planejado, afinal, não basta aplicar os conhecimentos técnicos, mas conquistar clientes e gerir o dia a dia de uma empresa… isto apenas para citar alguns desafios de quem resolve empreender.
Nem sempre os conhecimentos de gestão aprendidos num curso de graduação são suficientes, e muita gente recorre à troca de informações e a cursos extras. Estes são, aliás, a base do trabalho do programa Empreender, que reúne pequenos empresários em núcleos setoriais e multissetoriais para ajudá-los a suprir as dificuldades do próprio negócio.
E foi o que fez Bruno Nunes. Depois de ter trabalhado numa construtora, ele resolveu abrir o próprio negócio, dando início, há cinco anos, ao Studio Bianco Arquitetura + Engenharia. A jornada empreendedora tem exigido gestão profissionalizada e disciplina.
“Para trabalhar sozinho é preciso disciplina com os horários e gastos. Quando trabalhamos com outros, temos menos responsabilidade. Sozinho é mais difícil, mas há mais liberdade”, diz o empresário, que não se arrepende do rumo que escolheu.
Sem conhecimento em gestão, ele teve que aprender “na tentativa e erro”, em suas palavras. Foi na busca por autodesenvolvimento que Nunes decidiu entrar para o Arq&Com, o Núcleo Setorial de Arquitetura e Urbanismo do programa Empreender. Lá teve a oportunidade de compartilhar experiências e trocar informações, além de ter participado de capacitações sobre vendas, controle financeiro, viabilidade de obras e precificação de serviços. Também foram feitas visitas técnicas, entre outras ações.
Conforme o empresário, com o conhecimento adquirido ao longo dos encontros do núcleo, ele aperfeiçoou a gestão do negócio, corrigindo e até antevendo erros.
Fazendo o sonho acontecer
Quem também faz parte do Arq&Com é Vanessa Aderaldo, da recém-inaugurada Vanessa Aderaldo Arquitetura e Interiores, que desenvolve projetos comerciais e empresariais de arquitetura e interiores. Até meados do ano, ela era sócia de outra empresa em parceria com uma colega de faculdade. “Não foi planejado, mas vi nessa proposta de sociedade uma oportunidade de atingir meu objetivo de empreender”, relata. Ela tinha conhecimento de gestão, devido a um curso nos Estados Unidos, mas ainda assim as dificuldades vieram com a prática. “O arquiteto sai da faculdade despreparado para o empreendedorismo. Até temos disciplinas relacionadas à gestão, aprendemos sobre ética e questões importantes para ter um negócio, mas não é o suficiente. Uma empresa tem contas a pagar, contrato para assinar, pessoas com as quais você não sabe lidar. Só nos damos conta dessas questões quando os problemas aparecem”, relata.
Vanessa Aderaldo, que tem um escritório de arquitetura que leva o nome dela
Para suprir essas necessidades, Vanessa participou de palestras, buscou informações na internet e entrou para o Empreender. “Quis participar do núcleo para conversar com pessoas da mesma profissão e entender se as dificuldades eram só minhas ou de outros profissionais. Queria aprender com os erros e acertos dos outros para melhorar a minha empresa”, explica. E ela garante que as expectativas foram superadas.
Há um ano no núcleo, a empresária teve a oportunidade de aprender com colegas e profissionais convidados para as palestras. Ela também participou de visitas técnicas e recebeu consultoria financeira, o que permitiu entender o fluxo de caixa e avaliar o sucesso do escritório, além de aperfeiçoar as práticas de gestão.
Quando questionada sobre seu perfil empreendedor, Vanessa se considera determinada. “Desde o primeiro dia fui fazendo meu sonho acontecer. Costumo dizer que esse é meu plano A, B, C e D”, conta. Foi por isso que ela resolveu deixar a sociedade com a amiga, mesmo sem qualquer desentendimento.
Como seu desejo é abrir outro escritório em Campo Grande/MS, onde fez faculdade, e trabalhar sozinha, ela percebeu a necessidade de gerir o negócio de forma independente.
Mentalidade empreendedora
Outra empresária que concluiu a faculdade sem preparo para empreender é Brenda Elisa, psicóloga e proprietária do Espaço Existir. “Você se forma para ser autônomo ou trabalhar em uma organização. Ninguém explica como abrir a própria empresa”, relata.
Brenda Elisa, do Espaço Existir
O primeiro contato com o empreendedorismo veio trabalhando em uma consultoria de responsabilidade social, inovação social e tendências. Lá ela entendeu a importância da psicologia para organizações e que poderia empreender. Assim, abriu a clínica e passou a alugar salas para profissionais parceiros.
Empolgada com a descoberta da vocação, Brenda se inscreveu na última edição do Inovus – Teste Sua Ideia, com a proposta de criar uma plataforma que aliasse o atendimento psicológico à análise de clima e cultura das empresas. Para isso, contou com outros três sócios, fundando a start-up Mental Manager. A plataforma ainda está em fase de desenvolvimento e será utilizada por empresas que desejam avaliar e melhorar o ambiente para os colaboradores, que responderão pesquisas de clima e cultura e conversarão com inteligência artificial. Já as empresas farão assinatura mensal, com acesso aos resultados da plataforma sem comprometer a identidade dos funcionários. Estes terão ainda o benefício de acesso à psicoterapia no Espaço Existir.
Brenda entrou para o núcleo de Psicologia em 2020 após ter percebido resistência em relação ao empreendedorismo por parte dos colegas da área. “Queria fazer diferente, até para não sofrer os mesmos problemas de gestão enfrentados pelos colegas”, esclarece. “Desde então pude entender melhor sobre negócios, tive acesso a ferramentas, contatos e encontrei um espaço de acolhimento no qual compartilhei experiências e entendi que gestão não se faz sozinho, é um processo constante de aprendizado”, explica ela, que sempre está observando o que pode melhorar ou ser feito de forma diferente.
Mais benefícios
Assim como Brenda, Sérgio Spack só foi perceber o quanto podia se desenvolver enquanto empreendedor ao entrar para um dos núcleos do programa, no seu caso o de Dentistas Empreendedores Associados. Quando ele e os outros sócios da Clínica Odontológica Restaure começaram a trabalhar, atuavam como pessoas físicas, dividindo o espaço e as despesas, sem empresa constituída. Porém, convidado por um colega de profissão, Spack entrou para o programa há sete anos e, após algumas reuniões, cursos e palestras, começou a perceber a importância de uma boa gestão administrativa, a começar pela mudança de pessoa física para pessoa jurídica.
Sérgio Spack, da Clínica Odontológica Restaure
“Abrimos a empresa, fizemos adequações e vimos a necessidade de contratar um administrador. Na faculdade aprendemos a exercer a profissão de dentistas, mas não a gerir um negócio. Acreditava que estava fazendo tudo certo, mas o núcleo ampliou minha visão”, explica. E não demorou para perceber os resultados. “Vários são os benefícios de uma clínica com boa gestão. Como pessoa física, a receita era individual e pagávamos 27% de imposto de renda. Agora, com empresa constituída esse valor diminuiu, podendo chegar a 6,5%. Outros benefícios foram agregados, como otimizar compras e firmar parcerias com prestadores de serviço. Temos muito a aprender sobre o assunto, mas estamos tendo bons resultados”, relata.
Outro aspecto destacado por Spack é a importância de proporcionar um atendimento amplo ao cliente. Antes, os casos que não se enquadravam nas especialidades da clínica eram encaminhados para outros profissionais. Agora, a meta é ampliar o atendimento agregando à equipe novos profissionais que atuam nas especialidades não disponibilizadas. “Essa visão de ampliação de serviço traz comodidade ao cliente, agiliza o tratamento, abre vagas de emprego, além de trazer retorno financeiro para a empresa”, pontua.
Spack diz que, em geral, dentistas preferem participar de cursos e congressos de odontologia em vez de discutir gestão. No entanto, é preciso se desenvolver em outras áreas, conhecer o negócio e estar disposto a mudar para obter melhores resultados.
30 dias se tornaram 21 anos
A jornada empreendedora de Ana Raquel Souto dos Santos, que iniciou a carreira no departamento jurídico de um sindicato, começou de forma inesperada. Seu colega de turma na época da universidade, Marcelo Dantas Lopes, que possuía escritório de advocacia, pediu ajuda para resolver uma demanda que duraria no máximo 30 dias. Mas a dinâmica de trabalho funcionou tão bem que Ana se tornou sócia do escritório Lopes, Santos e Giroto Advogados Associados. Não foi diferente com relação a Márcio Zanin Giroto, que começou como estagiário e acabou entrando para a sociedade.
Ana Raquel Souto dos Santos, do escritório Lopes, Santos e Giroto Advogados Associados
Assim é a cultura do escritório: os sócios estão alinhados, estabelecendo boa comunicação que se reflete na gestão. “Embora seja minha a atribuição desempenhar a maior parte das funções administrativas na sociedade, todas as decisões que impactam o escritório são deliberadas entre os três sócios e tomadas em comum acordo”, esclarece Ana.
Cada sócio realiza as tarefas de acordo com afinidades e especialidade jurídica. Como o setor da economia para o qual o escritório é mais voltado é o imobiliário, Ana atua predominantemente na área de gestão de pessoas e serviços relacionados à área trabalhista e de propriedade industrial. Porém, dentro da necessidade do cliente, a equipe presta assessoria jurídica em outras áreas.
Com o crescimento do escritório, surgiu a necessidade de implementação de uma gestão profissional. Foi preciso aprender na prática sobre controladoria jurídica, controle financeiro, padronização de atendimento e dos processos internos, entre outros aspectos.
A advogada destaca que entender o escritório como um negócio não é o mesmo que mercantilização da advocacia, mas “atentar para a gestão e crescimento da banca, em estratégias de atendimento ao cliente e em marketing, dentro do contexto permitido pelo código de ética da categoria. É planejar estrategicamente o escritório, para que funcione, de forma sustentável, a longo prazo”. Desse modo, o Núcleo de Advogados, o Advocare, veio ao encontro das necessidades do escritório, possibilitando troca de informações e capacitação em controladoria jurídica, gestão de pessoas e controle financeiro, contribuindo para o aperfeiçoamento e planejamento do negócio.
Por fim, Ana relata que hoje “além de conhecimentos técnicos em gestão, é essencial que o advogado busque o desenvolvimento de habilidades de comunicação e outras soft skills, pois alguns clientes exigem atendimento quase que ininterrupto, com demandas urgentes e que muitas vezes exigem solução imediata”.
O próprio núcleo
Mas se o Empreender não tiver um núcleo de determinado setor, por que não criar o seu? Foi o que fez Júnior Cesar Marcon, que ajudou a fundar o núcleo de Contadores.
Sócio da Aracon Contabilidade, Marcon cuida da parte operacional e supervisão da equipe da empresa, que possui dois sócios e quatro colaboradores. Em 2018, ele e o outro sócio realizaram um trabalho interno com uma profissional que participa do Empreender e explicou sobre o programa, alertando para o fato de que ainda não havia um núcleo de contadores. Assim, eles entraram em contato com a ACIM para propor a criação do núcleo.
Júnior Cesar Marcon, da Aracon Contabilidade
Junior acredita que a iniciativa contribui para o desenvolvimento pessoal e profissional e que a principal conquista foi construir um grupo unido, interessado no aperfeiçoamento da profissão. “Na pandemia, por exemplo, a legislação mudou muito e tivemos apoio dos outros para repassar informações”, explica.
Sobre a gestão do negócio, ele observou melhorias na administração do tempo e de custos. “Será que estou cobrando adequadamente? Quanto gasto? Estou tendo prejuízos? Estas perguntas foram respondidas com os encontros”, relata. Além da troca de informações e experiências, o núcleo proporcionou cursos e palestras, muitas em parceria com o Sebrae.
Para saber mais sobre o Empreender, o fone é 0800 600 9595.