Nem o distanciamento físico, causado pela pandemia, afasta a parceria e a vontade de crescer ao lado dos concorrentes. Assim tem sido o programa Empreender que, por meio de núcleos setoriais e multissetoriais, reúne quinzenalmente pequenos empresários de um mesmo segmento ou interesse para que possam traçar ações conjuntas. Com o acompanhamento de um consultor da ACIM, os empresários descobrem que os desafios que afligem uma empresa normalmente atingem outra. E aí a solução vem em conjunto com aqueles que até então eram vistos como concorrentes. Há grupos que criam centrais de compras, outros que investem em qualificação, há ainda os que investem na divulgação das empresas e prospecção de clientes por meio da participação em feiras. Cada núcleo detecta os desafios e as ações para contribuir com o crescimento e a inovação.
Com 62 núcleos e quase 900 empresas envolvidas, o Empreender da Associação Comercial é o maior do gênero da América Latina, tanto que o presidente da entidade, Michel Felippe Soares, apresentou o case local em Paris, na França, em 2019, a convite do Al-Invest, um programa de cooperação econômica da União Europeia que apoia micro, pequena e média empresas - vários núcleos da ACIM foram contemplados com recursos financeiros desse programa internacional.
Para participar basta ser associado da ACIM. Também é possível criar um núcleo, para isso, é preciso procurar a entidade, que fará o levantamento das empresas do setor e organizará uma reunião para explicar o funcionamento do programa. Bem-sucedido, o Empreender tem a meta de terminar o ano com 80 núcleos e mil participantes. A Revista ACIM lista iniciativas adotadas por alguns núcleos que confirmam a eficácia do programa. Confira:
Fotógrafos
Para divulgar o trabalho dos profissionais, o Núcleo de Fotógrafos desenvolveu um site. “O núcleo trouxe visibilidade para as empresas, criando e administrando um site com SEO direcionado, o que faz com que mesmo as empresas que não eram listadas no Google em pesquisas sobre fotógrafos, começaram a aparecer e ganhar dinheiro. No site criamos um mapa de locais para fotografar em Maringá e região, que é uma ferramenta poderosa de crescimento do site e valorização dos profissionais que fazem parte do núcleo, considerando que cada local é alimentado por um participante com imagens feitas por ele”, detalha o fotógrafo Elisson Andrade.
Além disso, o núcleo firmou parcerias com fornecedores que garantem, por exemplo, desconto na contratação de seguro para os equipamentos que as empresas utilizam. Há, ainda, duas ações em andamento: uma exposição para o segundo semestre e uma campanha de desconto para associados da ACIM. “Voltada à visibilidade do Núcleo de Fotógrafos e seus membros, será realizada a exposição ‘Vinte ver Maringá’, e a outra ação é uma campanha em que todo associado poderá contratar qualquer membro do núcleo com 10% de desconto nos serviços, não apenas na esfera empresarial, mas para registrar momentos em família, eventos sociais etc. Na pandemia, em que a venda se tornou um desafio maior, ser visto e atingir novos clientes são ‘o pote de ouro no fim do arco-íris’”, destaca.
Para ele, que está no mercado desde 2015, o núcleo fortalece as empresas. “A inovação vem desde a criação do grupo: falar de negócios de forma aberta e sem egos inflados. Temos um espaço para brainstorm (troca de ideias) e crescimento mútuo enquanto gestores, não apenas como fotógrafos. Com as ações do núcleo, melhorei minha presença virtual, oratória, discurso, aprimorei a fotografia e a gestão da empresa. Em suma, em todas as áreas que seria possível crescer em uma empresa voltada ao mercado fotográfico obtive resultados significativos”, elogia.
Infraestrutura em TI e Comunicação
Após revisar o Modelo da Excelência da Gestão (MEG) - metodologia de avaliação do nível de maturidade da gestão - o Núcleo Setorial de Infraestrutura em TI e Comunicação (Infratic) implementou ações em busca de inovação, de acordo com Eli Lourenço Vieira Junior, diretor da MOC Internet e integrante do grupo.
“Fizemos o MEG há alguns anos e, após revisar o processo, vimos que tínhamos deixado de adotar algumas iniciativas. O MEG é um norte importante, conseguimos trazer treinamentos sobre a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e compliance para o grupo e agora estamos trazendo conhecimento sobre gestão financeira avançada, para que todas as empresas tenham crescimento estruturado”, detalha.
A pandemia não freou as ações. Pelo contrário: muitas empresas viram a demanda crescer e, juntas, encontraram caminhos para o novo cenário. “Logo no início da pandemia começamos com as reuniões virtuais, seguindo o planejamento do ano. Nos unimos para saber como cada empresa estava lidando e conseguimos evoluir em um momento de crise. Empresas que atendem demanda de informática, por exemplo, conseguiram novos contratos para cuidar dos computadores no home office. Outras foram contratadas para levar o ramal da empresa para a residência dos colaboradores. E algumas focaram na adequação à LGPD, cuidando da segurança dos dados das empresas”, relata Viera Junior.
A MOC atua como provedora regional disponibilizando acesso à internet para empresas e residências. Durante a pandemia, manteve o compromisso de fornecer conexão, inclusive, em áreas rurais. “Estamos sempre investindo em nossa rede, principalmente na fibra óptica. Personalizamos uma solução que em meio a uma tempestade, caso haja queda de postes, a empresa permanece com conexão. Além disso, investimos em gestão de pessoas e promovemos atendimento humanizado pelo WhatsApp”, finaliza.
Farmácias de Manipulação
No Núcleo de Farmácias de Manipulação (Ello Magistral) a concorrência deu lugar à união, trazendo conquistas. Uma das ações foi a reparação de um equívoco em um decreto da Anvisa por meio da legislação municipal, como explica Luís Marcelo Lemos Dutra, sócio da Simília. “As farmácias de manipulação eram proibidas de fracionar cápsulas oleosas. Com a força do segmento e o apoio da ACIM, uma lei reverteu a situação injusta e prejudicial tanto para a população quanto para as farmácias”, explica.
Outra ação foi a criação de uma plataforma de compras, necessária para reduzir custos na aquisição conjunta de matérias-primas. Uma ferramenta gerencia a compra, tornando a comunicação entre as farmácias do grupo e os fornecedores ágil e eficiente. “Cada um contribui de uma forma nas ações e comissões do núcleo. Temos consciência de que o trabalho não é somente para nossas empresas, mas para toda a cadeia”, avalia Dutra.
Membro do Ello Magistral há quatro anos, ele elogia a proposta do programa. “Entrei porque achei interessante juntar as empresas do mesmo segmento para discutir problemas e buscar soluções”, diz.
Inovação no varejo
Multissetorial e criado em outubro do ano passado, o Núcleo de Inovação no varejo conta com 30 empresas, entre lojas, seguradoras e prestadores de serviços. A troca de experiências tem ajudado no crescimento, relata Sheila Alessandra de Sousa, que é sócia dos Panos Encantados, empresa que fabrica cestos artesanais.
“O intuito do núcleo é proporcionar a troca de experiências, o que serve de estímulo para o empresário se manter no mercado e aplicar inovações em seu negócio. Os encontros proporcionam uma visão ampla do negócio, ainda mais porque minha empresa é familiar e tínhamos dificuldade de empreender. Agora estou recebendo apoio para crescer, aprendi a importância de formalizar o negócio e ter planejamento estratégico. Tive que trocar a postura de artesã pela postura de empresária”, detalha.
Quando o assunto é inovação, Sheila destaca que vai além do uso da tecnologia. “A inovação pode ser uma melhoria no processo de produção, na forma de apresentação do produto ou serviço, na abordagem do cliente ou em outra área”, frisa.
A empresa Panos Encantados inovou na oferta de produtos, focando em itens para decoração. Antes havia uma diversidade maior de produtos, mas com os encontros do núcleo, Sheila percebeu a necessidade de segmentar. Além disso, a empresária investiu na divulgação dos produtos nas redes sociais. “A mudança de postura trouxe visibilidade. Em seis meses registrei aumento de 40% nas vendas”, comenta. Ela quer fazer parcerias com profissionais de decoração e arquitetura para alavancar as vendas e aumentar a visibilidade da loja.
Marcenarias
Por meio de uma ferramenta de avaliação de gestão, o Núcleo de Marcenarias iniciou, em parceria com o Sebrae, um projeto de certificação de qualidade. As empresas participantes responderam a perguntas relacionadas à liderança e protagonismo; planejamento e visão de futuro; mercado e atendimento; gestão de pessoas; gestão financeira; inovação e conhecimento; organização e processos; além de questões técnicas do setor. O instrumento gera um gráfico que permite ao empreendedor comparar a pontuação à média do setor.
Com base nas respostas, as empresas foram classificadas com o Selo Bronze de Qualidade e estão sendo acompanhadas para melhorar os resultados. Segundo o consultor do grupo, Anderson Estrada, a ideia é que as empresas alcancem o Selo Prata em setembro e o Selo Ouro no início de 2022. “Nossa intenção é que por meio das consultorias do Sebrae e demais capacitações do núcleo, as empresas possam fazer adequações, inovar, melhorar o desempenho individual e contribuir para o fortalecimento do setor”, diz.