Artigos

O mundo não pode parar toda vez que surgir uma nova cepa

O mundo não pode parar toda vez que surgir uma nova cepa

800
visualizações

Quem é?

Nise Yamaguchi

O que faz?

Cientista e médica especializada em Imunologia e Oncologia

É destaque por?

Foi cotada para ser ministra da Saúde e é referência em tratamento oncológico


O mundo não pode parar toda vez que surgir uma nova cepa

Em meio à escalada desenfreada de casos e mortes por Covid-19 no Brasil, a médica Nise Yamaguchi, especializada em Oncologia e Imunologia, reitera seu discurso em defesa do tratamento precoce contra o novo coronavírus. 

Natural de Maringá, mas há anos morando em São Paulo, a oncologista é uma das médicas entusiastas do uso da hidroxicloroquina para tratar pacientes com Covid-19 e foi cotada para assumir o Ministério da Saúde no ano passado. 

A doutora Nise afirma que o medicamento é eficaz contra a doença e queixa-se dos ataques àqueles que defendem o tratamento precoce. “Se falar em tratamento precoce, é bem possível que a matéria não possa ir para o ar, não possa ser postada no Youtube e Facebook porque é considerado fake news”, lamenta. 

A médica também é contrária ao isolamento social e à vacinação obrigatória, posições que defendeu durante a sua visita a Maringá, em fevereiro. Ela veio à cidade natal para uma palestra na ACIM, onde falou sobre resiliência e superação em tempos de Covid-19: 

A senhora defende o tratamento precoce ao coronavírus. O que isso significa?

O vírus entra na célula por meio de receptores e se multiplica usando a máquina celular. Há medicamentos que diminuem a entrada do vírus na célula e medicamentos que ajudam a diminuir a capacidade do vírus de se ligar a essa máquina celular, onde criará novos vírus. Os tratamentos precoces e preventivos têm como bases as vitaminas e zinco, que são elementos que protegem exatamente de infecções virais. Os tratamentos precoces são aqueles iniciados nos momentos iniciais dos sintomas, mesmo antes do diagnóstico. Alguns pacientes que tomam ivermectina preventivamente, por exemplo, têm tido menos infecções. Há dois esquemas placebos: um com hidroxocloroquina, azitromicina, zinco e vitamina D. Outro utiliza ivermectina com ou sem a hidroxocloroquina. Há um estudo em andamento que faz a comparação desses dois protocolos.

Por que há tanta resistência à hidroxocloriquina?

Há resistência porque funciona e é barata. Na realidade, a manutenção da pandemia interessa a muitas pessoas. Belém/PA, por exemplo, estava com problema seríssimo de falta de leitos. Tinham mais de cem pacientes para internar nos hospitais particulares. Os pacientes estavam morrendo nos carros, em casa, no corredor, no pronto-socorro, sem conseguir vagas nas UTIs. Quando começaram a usar os tratamentos precoces, descolapsaram o sistema. Redes hospitalares que usaram protocolos que incluem ivermectina, hidroxocloroquina, azitromicina, zinco e vitamina D tiveram redução brutal de internações. Também diminuíram em 90% a incidência de mortalidade. O que vejo é um conflito de interesse. Pessoas que estão condenando o tratamento precoce não declararam que têm acordo com indústrias farmacêuticas que vendem remédios mais caros. Outra coisa que precisa ficar clara é que o tratamento precoce não compete com as vacinas. Ele é inclusivo. Se houver vacinas boas, eficientes e seguras a curto, médio e longo prazos, não tem problema. Só que as vacinas que estão surgindo ainda não protegem 100%. Então ainda há quem precise de tratamento precoce. 

Quais foram os principais erros e acertos do Brasil no combate à pandemia? 

O primeiro erro foi ‘fique em casa’. Outra coisa foi dizer que todo mundo que morria estava morrendo de Covid sem verificar. Os números foram inflados. Outro erro foi estimular somente EPIs e aparelhos de respiração em detrimento do tratamento precoce. Foi errado priorizar a criação de UTIs e fazer hospitais de campanha. Foram gastos enormes porque nos hospitais de campanha nada funciona. Outro erro absurdo é esta agressão a quem tenta tratar precocemente. Há uma mídia que trabalha intensamente contra os tratamentos precoces, somente priorizando a hospitalização. Por outro lado, os exemplos de um Brasil que dá certo são aqueles que fizeram tratamento precoce, como Porto Feliz/SP, Belém/PA e o estado do Amapá. 

Qual sua opinião sobre a eficácia e a obrigatoriedade das vacinas disponíveis atualmente no Brasil? 

Elas não devem ser obrigatórias. Em primeiro lugar, quem já teve Covid talvez não deva fazer a vacina porque pode ter reações inflamatórias como ocorre, por exemplo, com quem já teve dengue. Não foi possível fazer a vacina da dengue porque o paciente desenvolve dengue hemorrágica em alguns casos. Porque é assim: você causa uma inflamação de novo e quem já esteve na UTI pode ter uma nova inflamação. Outra coisa, quem tem doenças autoimunes talvez possa desenvolver mais doenças autoimunes. Em relação a quem tem câncer, nenhum paciente que está em quimioterapia e com imunidade baixa foi testado. Essas terapêuticas com vírus inativados ou atenuados são delicadas para pacientes imunodeprimidos. Quem tem Aids talvez também não devesse se vacinar. Não há dados sobre a eficácia nem a longo e médio prazos. Autorizar, de forma automática, tudo o que a OMS [Organização Mundial de Saúde] está autorizando é temerário. 

“Os tratamentos precoces e preventivos têm como bases as vitaminas e zinco, que são elementos que protegem de infecções virais. Os tratamentos precoces são aqueles iniciados nos momentos iniciais dos sintomas, mesmo antes do diagnóstico”

O surgimento de novas cepas do coronavírus preocupa?

É preocupante porque toda hora vão surgir novas cepas. Agora o mundo não pode parar toda vez que surgir uma nova cepa. E nem será possível isolar as cepas das outras. O conhecimento tem que servir para buscarmos novos tratamentos. 

A senhora é favorável ao retorno presencial das aulas?

Sem dúvida. As crianças estão ficando deprimidas. E achar que todas as crianças têm iPhone ou computador para ter aula remota é irreal. Essas crianças não estão comendo o lanche que costumavam comer. Estão sendo vítimas de abusos sexuais que não estão sendo detectados, porque era a escola quem fazia este papel muitas vezes. Há casos de violência doméstica. O consumo de álcool e drogas entre jovens aumentou. Estamos criando uma geração de incapazes e de pais que não conseguem trabalhar porque precisam ficar em casa cuidando dos filhos. Estamos criando uma sociedade surreal. O que está acontecendo é a manutenção do estado de exceção baseado no medo que é gerado todos os dias.

Houve exageros no lockdown? 

Total. Existem exageros nas ações, usa-se o medo para submissão. Não pode fazer manifestação. Tirou-se o direito democrático de ir e vir. Há pessoas sendo açoitadas na Bolívia porque estão sem máscaras. Qual motivo há para ter que fechar às 23h? O vírus só pega até as 23h? Não. Devíamos estender os horários de funcionamento dos estabelecimentos para diluir o fluxo.

Vamos conviver com mais pandemias? 

Na realidade sempre convivemos. O mundo não parou por causa da Aids, H1N1, Sars-Cov 1, malária, dengue e chikungunya. Os seres humanos invadiram os biomas terrestres e estão numa guerra biológica. Temos que ser criativos e eficientes nessa luta. Somos muito passivos. 

Seu nome foi cotado para assumir o Ministério da Saúde no ano passado. Como foi isso? 

Todos querem ter alguém com protagonismo na função de ministro, mas acredito que acabei sendo útil fazendo ações fora do ministério. Ajudei o conselho científico do ministério, contribuo com o gabinete de crise da Presidência da República. Atualmente coordeno um comitê de gestão de governança do TCU [Tribunal de Contas da União] formado por voluntários e atuo com empresários do Brasil inteiro. Há mais de dez mil médicos que a gente treinou. Também fui útil cuidando dos meus pacientes com câncer e de pacientes com Covid. Ou seja, há muita coisa além de ser protagonista do ministério de maior orçamento da União. 

Pensa em carreira política?  

Tive várias ofertas, mas acho que vou continuar cientista. Estou pensando em pedir um green card de cientista e ficar um tempo fora e um tempo aqui. Eu viajava muito e fazia trabalho com comunidades científicas no exterior. E aí não cabe parte política. Neste momento não tenho experiência legislativa nem partidária. Só se me for pedido alguma coisa específica, aí posso pensar. Mas a política partidária não é o meu perfil. Tenho perfil de idealizadora de programas e implementadora de ações, não para discussão semântica de portarias e leis. 

Maringá é sua cidade natal. Quais memórias guarda daqui? 

As melhores. Eu brincava na rua, tinha liberdade de ir e vir. Quando criança, ia sozinha para a escola andando no meio do Parque do Ingá ou pegava carona com o leiteiro. Estudei piano, inglês e japonês. Fui bandeirante da igreja metodista. Tive acesso a uma formação extraordinária, uma formação sólida, moral e cívica.

“O mundo não pode parar toda vez que surgir uma nova cepa. E nem será possível isolar as cepas das outras. O conhecimento tem que servir para buscarmos novos tratamentos”