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Estoque de segurança garante manutenção dos negócios

Estoque de segurança garante manutenção dos negócios

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Vários setores vêm enfrentando atrasos e dificuldades para aquisição de matéria-prima, em razão do desabastecimento como consequência dos impactos da pandemia. Para driblar o problema, as empresas estão fazendo pedidos antecipadamente e estocando mais, como a Mondress Lingerie. 

Mônica Assis, segunda geração à frente da empresa, conta que mesmo com as restrições, a fábrica não parou e produziu máscaras por 45 dias. Após esse período, a empresa focou na produção de lingeries para o mercado online, que apresentava aumento na demanda. “Trabalhávamos com metodologia enxuta, então quando começou a pandemia, seguramos pedidos de matéria-prima que tínhamos para receber e barramos entregas, voltando a receber a mercadoria conforme ajustamos a produção”, conta. 

A demanda online, no entanto, aumentou mais que o previsto. Esse fator, combinado ao período de lockdown nos fornecedores, forçou a Mondress a fazer entregas parciais de pedidos. É que alguns tecidos, antes recebidos em um prazo de 20 a 30 dias, passaram a chegar com 60 dias, sendo que o principal deles, utilizado na confecção de cintas modeladoras, passou a chegar entre 90 e 180 dias. Até os fornecedores de aviamentos,  que atendiam à pronta-entrega, passaram a pedir prazo de 60 dias.

A empresa chegou a ter que parar as vendas para o atacado em outubro do ano passado por não tem como produzir. “O fornecedor de tecido ainda está pedindo prazo de seis meses, e o de aviamentos  está em 60 dias. Arcos de metal só com 60 dias também. Os fornecedores de tecido alegam que importam o fio, que faltou no mercado internacional. É uma cadeia de atraso”, diz Mônica. 

O preço dos produtos para o consumidor final sofreu impacto e foi ajustado em outubro passado e depois em janeiro deste ano, sofrendo aumento de cerca de 20%. Um novo reajuste está em estudo, já que o fornecedor de tecido tem repassado aumentos mensais. “Seguramos o que podíamos e só vamos ver o reflexo desse preço nas vendas no decorrer de 2021”, comenta Mônica.

Diante do aumento de prazo para recebimento da matéria-prima, Mônica Assis teve que aumentar o estoque da Mondress Lingerie:  “é uma cadeia de atraso”

Soluções

Para minimizar os problemas, a empreendedora mantém conversas com os fornecedores de tecidos todos os dias, dispondo-se a comprar o pedido de qualquer desistência. As compras também aumentaram, chegando a 300 quilos de tecido de cada cor por mês para as cintas modeladoras. 

“Foi uma tarefa diária controlar todos os números e procedimentos internos. Saímos um pouco do modelo enxuto. Compramos para mais meses, precisamos reformar a empresa porque não tinha estrutura para comportar tudo. Renda, por exemplo, que comprávamos para 60 dias, estamos comprando para seis meses”, conta Mônica. 

Beneficiada pela demanda online, a empresa cresceu em torno de 25% no faturamento e aumentou o quadro de 43 para 53 funcionários. Só não cresceu mais porque não existe matéria-prima para aumentar a produção. Também foi preciso voltar a priorizar o atacado, forçando a empresa a diminuir a oferta no varejo online. O estoque praticamente esgotou. 

Mônica relata que a empresa passou por uma crise interna de reestruturação em 2015. Foi a partir daí que foram abertos canais de venda próprios, o que fez a diferença na pandemia.  “São os multicanais e a exportação para países como Paraguai e Bolívia que têm nos segurado.”

Setor agrícola

A pandemia provocou uma profunda crise financeira mundial – na América Latina a queda do Produto Interno Brito (PIB) foi a pior do último século. A turbulência fez o mercado internacional correr para comprar mais, provocando redução nos estoques. Esta movimentação acarretou recordes nas produções, o que aumentou a demanda por materiais. 

Segundo o gerente de compras da Irrigafort Produtos Agrícolas, Eric Inumaru, os problemas de desabastecimento começaram em outubro do ano passado, entre eles atrasos na entrega de pedidos e reajustes de preços quase semanais. 

Um dos produtos que tem faltado na loja e que teve a demanda aumentada é o PVC. Uma grande fornecedora tem pedido prazo de 60 a 90 dias para a entrega, antes feita entre 15 e 45 dias. “Aumentou a procura também na parte de sais de adubo e estão faltando materiais”, diz Inumaru. 

A solução foi aumentar o estoque regulador. Mesmo assim ficaram janelas. Em relação ao estoque de tubos, por exemplo, a empresa mantinha 500 peças de cada diâmetro e hoje o volume é o dobro.

O gerente conta que os preços aumentaram, sendo que uma parte foi absorvida pela empresa e a outra repassada ao consumidor final. “Os fornecedores estão sem previsão de normalizar as entregas. A expectativa seria neste primeiro semestre, mas acreditamos que levará mais tempo”, projeta.

Além da falta de materiais e dos atrasos no recebimento dos pedidos, Irrigafort Produtos Agrícolas tem enfrentado reajustes frequentes dos fornecedores; na foto o gerente Eric Inumaru 

Controle e gestão

Segundo o consultor Sebastião Cabrita, que ministra cursos na Escola de Negócios da ACIM, pode-se considerar que um estoque possui bom controle se os registros espelharem a quantidade de produtos físicos. Esse alinhamento de dados exige dedicação das equipes na manutenção das informações sobre os movimentos dos produtos e atenção redobrada neste momento. “O que as empresas não podem deixar de dar atenção quanto aos estoques são: giros dos produtos, margens de lucro e capacidade financeira da empresa em honrar os compromissos”, diz o consultor. 

Ele ressalta que o “estoque de segurança” visa a garantir que a atividade da empresa seja mantida por determinado período caso o fornecimento dos produtos seja interrompido de forma inesperada. Desta forma, uma das principais vantagens quando bem dimensionado, é a oportunidade de se organizar diante da quebra inesperada de fornecimento de produtos, reduzindo ou neutralizando o impacto negativo na produção ou na comercialização do item. “O mau dimensionamento desse estoque de segurança levará os gestores a decisões errôneas, comprometendo inclusive a mobilização do capital humano e financeiro”. 

O consultor pontua que para alguns segmentos o atual cenário é desfavorável, com baixa demanda, enquanto para outros é o inverso. “Nas duas condições o termômetro para definir se o gestor deverá investir mais ou menos em estoque será a  ‘demanda’, pois ela define o volume de consumo dos produtos ou serviços”.

Outro ponto destacado pelo consultor é a necessidade de classificação técnica do mix de produtos, a fim de se encontrar um melhor fluxo de vendas. Isso porque a manutenção das margens de lucro tem sido um dos grandes desafios das empresas. As causas são diversas, como as frequentes flutuações dos custos, o que gera instabilidades nos indicadores de sustentabilidade da empresa e, por consequência, exige dos gestores mais atenção na formação de preços.

“O mau dimensionamento do estoque de segurança levará a decisões errôneas, comprometendo inclusive a mobilização do capital humano e financeiro”, alerta o consultor Sebastião Cabrita


Dicas para a gestão de estoque

• Há diversos métodos para a gestão de estoque, mas a correta utilização de um Sistema ERP (Software que realiza a integração de dados de uma empresa num único local) pode ser considerada uma das melhores metodologias no controle do estoque, porque proporciona aos gestores dados sobre a situação do estoque e seus resultados

• Efetuar a conferência frequente do estoque (execução de inventários rotativos)

• Avaliar e corrigir as causas que levaram às divergências do estoque físico como apontado no sistema operacional (não é correto apenas ajustar o saldo, mas é importante compreender a causa da divergência, ou seja, avaliar o processo e a conduta das pessoas envolvidas)

• Identificar e avaliar os tipos de movimentos que os produtos realizam de entrada e saída do estoque, pois cada movimento gera um processo. 

Fonte: Consultor Sebastião Cabrita