Quem é?
Alberto Roitman
O que faz?
Especialista em comportamento humano
É destaque por?
Fundou a Escola do Caos e escreveu o livro ‘Você é o que você entrega! - 60 Dicas para se destacar no mundo corporativo’
“A performance é o que mantém o emprego”
Diante das incertezas impostas pela pandemia da Covid-19, parte das empresas fechou postos de trabalho e está substituindo colaboradores por salários mais baixos. Mas nem por isso o momento é de estagnação na carreira profissional. Muito pelo contrário. O momento é de crescer profissionalmente e se preparar para as demandas inesperadas do ‘novo’ mercado de trabalho.
“Todos os grandes momentos de crescimento de empresas e pessoas foram precedidos pelo caos. É ele quem nos empurra para sair da zona de conforto e nos força a desenvolver novas competências, novos comportamentos”, destaca o especialista em comportamento humano, Alberto Roitman.
“O problema é que o caos nos pega de surpresa e por mais que sejamos otimistas, sabendo que tudo vai passar, acabamos ficando ansiosos, pois temos contas para pagar todo mês”, acrescenta.
Para ajudar os profissionais a lidar com esses sentimentos, o especialista fundou a Escola do Caos, especializada em liderança e inovação. O objetivo é estimular pessoas e empresas a provocar rupturas, reinventar mercados e construir o futuro a partir do caos ressignificado.
Roitman também é podcaster no Caos Corporativo, disponível na plataforma Spotify, e autor dos livros ‘Você é o que você entrega! - 60 Dicas para se destacar no mundo corporativo’ e a ‘Última Chance’. Em entrevista à Revista ACIM, ele analisa o mercado de trabalho e dá dicas para profissionais que querem deslanchar na carreira:
É possível crescer na carreira em um momento de tanta turbulência?
A ansiedade do profissional, a angústia de não se recolocar, a insegurança de não conseguir visualizar o futuro, tudo isso gera descompensação emocional. Somos assim. O grande desafio é não deixar as dores do caos paralisarem. É necessário entender que, neste momento de sofrimento, não é possível estagnar. É preciso se reinventar, avaliar uma nova carreira, ganhar menos, mudar de profissão, matricular-se em um curso que não estava no radar. Algo precisa ser feito. O objetivo do profissional que aprende com o caos é voltar à arena o mais rápido possível.
Existe um perfil de profissional que se sai melhor em ambientes caóticos?
Sim, e há muitos. Entre eles estão profissionais liberais, como taxistas, autônomos, freelancers, ou seja, pessoas que não têm vínculos empregatícios e já tinham o costume de matar um leão por dia, já viviam em cenários de insegurança. Para eles, ganhar o pão é um desafio diário. Pessoas assalariadas, que tinham contrato estável de trabalho, ganhavam o salário no final do mês e perderam o emprego foram arremessadas para uma situação onde não estavam acostumadas a improvisar, se virar, gerar receita com o que tinham disponível. Esses profissionais travaram na crise. Até desenvolver o ‘se vira nos 30’ pode demorar.
Qual o tipo de profissional requisitado pelas empresas neste momento?
Houve uma mudança radical no mercado. Antes as empresas analisavam o currículo do candidato para saber o que ele tinha feito e projetavam se o colaborador, baseado em suas análises do passado, poderia performar no futuro. Era uma análise para uma aposta. Essa aposta não existe mais, pois esse colaborador trabalhou em um mundo que não existe mais. Agora estão sendo feitos acordos de trabalho por performance. Contrato para você entregar determinada performance. Caso contrário, terminamos aqui. Não há tempo para desenvolver o colaborador, esperar que ele engrene depois de três ou seis meses. Antigamente havia uma tolerância ao processo de adaptabilidade. Agora os mais requisitados são aqueles que entram vestindo a camisa e fazendo gols na primeira partida. A régua subiu.
Esses profissionais conseguem atuar juntos em uma empresa ou setor?
A competitividade está aumentando, contrariando o discurso das empresas de que é necessário trabalhar em equipe. Há um contrassenso nisso. Muitas empresas pediam para que todos trabalhassem em equipe, mas apenas uma parte foi mandada embora na crise. Os que melhor performavam ficaram. O recado foi dado errado, ou seja, quando o cinto apertou, não se preservou o emprego dos que trabalhavam em equipe, mas dos que mais performavam. O colaborador entendeu que a performance é o que mantém o emprego. Voltar com o discurso do trabalho em equipe não vai colar.
Diante do desemprego, incentiva-se o empreendedorismo. Como você avalia a migração de trabalhador para empreendedor?
É a grande sacada e o próximo movimento de um colaborador que tem maturidade suficiente no mercado de trabalho. A competitividade chegará a níveis extremos. Os chefes não têm preparo para liderar em sua maioria. É preciso entender que nem todo líder tem condições de ser inspirador. Alguns nem querem isso, apesar de se recursarem a admitir. O exercício da liderança é sofrível para muita gente que sequer consegue arrumar a cama direito, o que dirá dar ordens. Trabalhar em um ambiente assim é ganhar uma úlcera. A saída para esses colaboradores é montar sua empresa. O foco agora é muito maior na felicidade do que no cliente.
Um profissional bem-sucedido obrigatoriamente será um empreendedor de sucesso?
Deveria ser o caminho natural. As pessoas se iludem com as empresas achando que elas são incríveis. Colocam posts no Linkedin com o famoso #orgulhodepertencer. É só trocar o chefe, mudar a atividade, dar um aviso prévio que esse orgulho se dissolve mais rápido que aspirina. É preciso acabar com a hipocrisia de achar que um profissional vai fazer carreira na empresa como fazia antigamente. Hoje posso estar bem, mas amanhã tudo muda. Cuidado com as ilusões dos discursos de presidentes de empresa.
“Quando o cinto apertou, não se preservou o emprego dos que trabalhavam em equipe, mas dos que mais performavam. O colaborador entendeu que a performance é o que mantém o emprego. Voltar com o discurso do trabalho em equipe não vai colar”
A pandemia mudou as relações de trabalho, principalmente com a intensificação do home office. Como essa mudança impacta na carreira?
Está havendo um grande equívoco no mercado. As empresas estão entregando os prédios e salas comerciais pensando que os colaboradores se acostumaram a trabalhar em casa. Está se perdendo uma oportunidade de fazer um assessment [pesquisa] sobre quem tem perfil para ficar em casa e quem tem perfil para voltar ao escritório. Existem profissionais que vão performar bem em casa e outros no escritório. As empresas precisam entender isso. Será um diferencial competitivo para as empresas que souberem identificar o perfil do colaborador e extrair o que há de melhor de uma relação ganha-ganha.
O que deve ser levado em conta na hora de traçar metas para a carreira?
O maior capital intelectual que um profissional tem hoje é o networking. O conhecimento técnico é relevante, mas ter amigos e créditos com pessoas são mais relevantes. Estou todos os dias nas empresas e posso garantir que o líder que está na sua função ou o que foi promovido nem era o mais habilidoso, o que se destacava tecnicamente. Quem é promovido é o que tem a maior confiança do chefe. O chefe não quer problemas, coloca alguém que ele saiba que não vai fazer besteira. Ter networking é conseguir qualquer coisa na carreira.
O que podemos esperar do mercado de trabalho nos próximos anos?
Uma hipercompetição por parte dos colaboradores, uma migração em massa para a GIG economy (com economias mais informais) e flexibilização dos contratos. Vejo que as pessoas vão questionar os dogmas das empresas, tais como ‘trabalhe bastante que eu te promovo’, ‘me encante com o propósito da sua empresa’ e ‘enquanto tivermos uma boa relação e um bom salário eu darei o sangue’. A relação será de troca imediata, instantânea. O futuro é muito longe e caro para combinarmos algo agora para a empresa me entregar somente daqui cinco anos.
“Não há tempo para desenvolver o colaborador, esperar que ele engrene depois de três ou seis meses. Antigamente havia uma tolerância ao processo de adaptabilidade. Agora os mais requisitados são aqueles que entram vestindo a camisa e fazendo gols na primeira partida”
Quais as dicas do seu livro ‘Você é o que você entrega’?
A minha primeira dica relevante é investir todos os dias em aprender algo novo. Abra o celular e procure um vídeo no Youtube que te faça aprender algo, leia o resumo de um livro, compartilhe informações com colegas, escreva artigos. Isso ninguém tira: conhecimento. A segunda dica é invista o tempo todo em networking. Gosto de fazer uma lista de cem pessoas que gostaria de me aproximar e traço planos para isso. E, por fim, uma das melhores dicas vem de Frida Kahlo: ‘onde não puderes amar, não te demores’. Se a sua relação com a empresa não está bem, saia rápido. Se a relação com o chefe não está bem, saia rápido. Pare de sofrer. A vida é curta para demorarmos onde não podemos amar e sermos felizes.