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Novas formas de fazer negócios

Novas formas de fazer negócios

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Empresas mudam hábitos para driblar dificuldades impostas por distanciamento social; aceleração do e-commerce, readequação de produtos e capacitações remotas são algumas estratégias

Depois de um período de portas fechadas, veio o fluxo 60% menor nos corredores. O que parecia a certeza de que a crise causada pela pandemia do coronavírus seria implacável para os negócios, no shopping atacadista Avenida Fashion representou uma oportunidade para colocar projetos em prática.

Logo que um decreto exigiu que o shopping fosse fechado, a partir de 20 de março, começou o trabalho de sensibilização dos lojistas para adesão ao marketplace do empreendimento, já que as compras presenciais pararam. “Foi um projeto que reestruturamos com a pandemia. Alguns lojistas eram um pouco resistentes, pela questão do uso da tecnologia, mas a aceitação melhorou”, conta o gerente Alexandre Vivan.

Shopping expandiu uso do marketplace, ampliou relacionamento com guias, fará desfile online e, com isso, ganhou lojas e aumentou faturamento na pandemia

A ferramenta foi desenvolvida segundo o conceito omnichannel. Trata-se de interligar canais, estreitando a relação online e offline. Na plataforma do shopping, os clientes encontram as lojas e produtos e, se não quiserem finalizar a compra pelo canal, podem acionar diretamente a loja. Do outro lado, quando o cliente pesquisa, mas não finaliza a venda, o shopping informa o lojista, que pode dar sequência ao negócio.

Antes da pandemia, das 160 lojas, 15 estavam integradas. No final de junho esse número pulou para 84. Segundo Vivan, a projeção é que em dois meses 90% façam a adesão à solução para alavancar as vendas. “Saímos de uma queda do faturamento entre março e maio para uma evolução, diminuindo aquilo que perdemos em vendas e até melhorando em relação ao ano passado. Junho foi melhor do que o mesmo mês do ano passado”, revela.

O resultado positivo também veio com o trabalho dos mais de 300 guias de moda cadastrados. Atuando em diversas regiões do Brasil, eles têm comprado e levado os produtos para os clientes. De acordo com Vivan, muitos se adaptaram inclusive com veículos maiores. “As regiões obedecem a calendários diferentes de abertura e fechamento de comércio. Pesquisamos cada uma e informamos os lojistas que estávamos atendendo por telefone, Whatsapp e marketplace e que o guia poderia fazer as compras, trazer o cheque e entregar. Quase um delivery nacional”, conta o gerente.

LANÇAMENTOS DE COLEÇÃO

Nos lançamentos da coleção, nada de modelos e personalidades fazendo presença VIP e circulando entre convidados ou jantares e coquetéis para clientes. Neste mês o shopping transmitirá pela internet o lançamento da coleção de verão. “Para os lançamentos, a presença é importante, por isso, esperamos retomar assim que for seguro. Estávamos apostando em espaços instagramáveis para melhorar as experiências, o que também pretendemos retomar com o final da pandemia”, conta Vivan.

O resultado do trabalho, além de recuperação em vendas, despertou o interesse do mercado. O shopping comemora a inauguração de 13 lojas entre março e junho e se prepara para a abertura de outras cinco até agosto. Todas as ações, ressalta o gerente, levam em conta a comunicação com o lojista e o cliente final.

Nós, o lojista e o consumidor estamos reaprendendo. Para o consumidor, precisamos reforçar a segurança de fazer negócios pela internet. Também geramos conteúdo, com dicas para usar o Instagram para vender moda. - Alexandre Vivan


MERCADO DE SEGUROS

A receita do mercado segurador caiu 21,4% em abril em relação a março e 26% no comparativo a abril do ano passado. Isso porque quando circula menos dinheiro, seja por falta ou receio de faltar, há menos predisposição para investimentos. Para o superintendente Comercial e Marketing da Sancor Seguros, Rosimario Pacheco, o item deveria ser essencial no planejamento financeiro dos brasileiros, mas por vezes não está na lista das primeiras necessidades.

Se por um lado as pessoas tendem a comprometer menos a renda em razão da situação econômica do país, por outro estão mais preocupadas com o futuro financeiro. Mostra disso é que na Sancor - empresa que faz parte do maior conglomerado segurador da Argentina e que opera no Brasil desde 2013 -, os seguros de vida tiveram crescimento em contratações nos últimos meses. No fechamento do primeiro quadrimestre, o aumento no total de prêmios emitidos foi de 35,6% em relação ao mesmo período do ano passado. “Certamente o brasileiro passou a dar mais importância ao seguro de pessoas, porque há um perigo iminente circulando em todo o mundo, não só no Brasil”, diz Pacheco.

A Sancor também espera que o mercado de seguros sinta, a partir de setembro, os reflexos da tendência do home office. Segundo o superintendente, com as mudanças anunciadas pelas empresas, a procura e a contratação de seguros residenciais devem crescer até 30%.

Ainda que esse comportamento atenue os impactos da crise no mercado, a companhia tem agido em diversas frentes para favorecer as vendas. Baseando-se na realidade financeira do consumidor, a seguradora enxugou produtos, ampliou e facilitou formas de pagamento e, seguindo uma tendência do mercado, passou a oferecer cobertura específica para mortes ecorrentes de pandemias.

SOLUÇÕES VIRTUAIS

Sancor tem oferecido capacitações remotas como alternativa para apoiar as vendas. Será lançado pela seguradora um programa em que corretores e parceiros participarão de discussões sobre tendências e serão apresentadas novidades em produtos e estratégias para geração de receita. “Lançaremos um programa de vendas digitais com cinco módulos, abordando vendas  novas ou para a carteira”, destaca Pacheco.

O superintendente diz que, após a pandemia, algumas medidas devem permanecer. Um exemplo são as vistorias, que passaram a ser feitas pelos consumidores por meio de links: eles próprios fazem as fotos e enviam para a empresa. Além disso, 30% dos cargos da Sancor, com 220 colaboradores no Brasil, tornaram-se home office definitivamente.

Pacheco ressalta ainda a necessidade de resposta imediata às demandas dos clientes. De acordo com o executivo, durante o evento climático conhecido como ‘ciclone bomba’, que atingiu principalmente a região sul do Brasil em junho, a Sancor foi bem avaliada pelos corretores. “Levamos um pouco de conforto às famílias afetadas, com indenização em tempo recorde. Em meio às dificuldades impostas pela pandemia, conseguimos dar atendimento aos segurados usando a tecnologia”.

MERCADO DISTRIBUIDOR

Acelerar o e-commerce, que já estava nos planos antes da pandemia, foi uma das estratégias da Arilu Distribuidora para reduzir o impacto nos negócios. Com isso, as negociações têm acontecido de forma remota, o que aumenta o desafio de lidar com a insegurança de clientes por causa da instabilidade do mercado. A gerente de Recursos Humanos da Arilu, Suelen Costa Paulo, explica que o contato pessoal para as vendas faz falta, mas a expectativa é que com o aprimoramento do relacionamento virtual, o e-commerce passe a ser mais utilizado.

Entre outras ações, os pagamentos tornaram-se exclusivamente eletrônicos e o custo logístico foi diluído. E são cerca de 380 colaboradores, mais da metade externos, que atuam conforme os decretos e possibilidades de cada região, com redução de jornada e salário após medida provisória.

ANÁLISE DE CRÉDITO

A Arilu também tornou mais rigorosa a análise de crédito em razão do aumento da inadimplência, por exemplo de restaurantes, bares, padarias e mercearias, que precisaram paralisar atividades. Segundo Suelen, as vendas desse pequeno varejo acabaram ficando semanas sem faturamento. Mesmo com o retorno das atividades, esses clientes estão receosos de realizar compras temendo não conseguir honrar compromissos financeiros.

Ainda que alguns setores tenham tido maior prejuízo, a Arilu distribui produtos essenciais e atende uma diversidade de segmentos, o que contribui com a saúde financeira da empresa. “Esta é uma realidade que favoreceu nosso negócio. De modo geral, o foodservice perdeu até 80% no faturamento, mas outros segmentos, como o de supermercados, tiveram crescimento, nos  ajudando a manter um equilíbrio financeiro”, explica