Carina Pereira Gasparello e Katia Pereira Gasparello, da Karin Ateliê Doces Artesanais, adotam uma impressora de tinta comestível
Não há outro jeito. Setores ligados à alimentação e gastronomia precisam inovar para além dos pratos saborosos. Que o digam Carina Pereira Gasparello e Katia Pereira Gasparello, sócias da Karin Ateliê Doces Artesanais e integrantes do Núcleo de Indústrias de Alimentos. Elas passaram a utilizar a técnica do transfer para a personalização dos doces. Por meio de uma impressora de tinta comestível, as sócias imprimem qualquer imagem em uma página A4 de acetato com uma película de manteiga de cacau. “Após a impressão, utilizamos para pingar o chocolate ou suspiro em cima da imagem e fazer a transferência”, explica Carina.
Além da técnica do transfer, elas implantaram rotinas administrativas e gerenciais para que tenham o controle do negócio e perspectiva de crescimento. Isso se reflete na utilização das redes sociais para divulgar e vender os produtos via Instagram, marketplace do Facebook, Google Meu Negócio e WhatsApp. Carina entende que é importante ter um diferencial na área da confeitaria. “Nosso foco é ter este reconhecimento por meio da técnica do transfer, além de nos estabelecermos como empresa, com a visão para abranger todas as áreas que impulsionam a gestão, e também vender o suficiente para nos manter no mercado e crescer”, revela. Isso tudo, também, graças ao apoio do programa Empreender. “Já tínhamos iniciado nossos controles e rotinas gerenciais antes do Empreender e, após o grupo, temos intensificado estas rotinas, porque percebemos que é a principal falha dos empreendedores”, diz.
A Karin Ateliê Doces Artesanais teve início há sete anos e logo a empresa percebeu o aumento de empreendedores na área da confeitaria. Porém nem todos conseguem se assumir como empresários pela falta de uma postura condizente que os ajudem a crescer no negócio. “O programa da ACIM para empreendedores do nosso porte contribui para que tenhamos esta percepção voltada à gestão do negócio, tirando o olhar apenas da produção e voltando nossa atenção para outras áreas da empresa por meio de orientação de consultores e troca de experiência com os integrantes do núcleo”, conta Carina.
O faturamento cresceu diante da aplicação de controles como precificação, planejamento, caixa, atendimento a clientes e treinamento na área de vendas. As sócias não têm colaboradores, mas já trabalham com metas definidas de crescimento e faturamento.
Receita de avó
Nina Vieira, proprietária da Doce Amor Brigadeiros Gourmet, também defende que o ramo de alimentação requer inovação tanto no âmbito estrutural quanto na criatividade de criar produtos ou trazer comidas com memória afetiva. “Num mundo pós-pandemia, trazer o afeto, a memória, o suspiro de uma boa lembrança da infância, alegra o coração. O exemplo vem das grandes empresas que sabem tocar na vida de cada cliente com atendimento humanizado, um recado que traz carinho e cuidado, aquela conversa, aquele abraço. Não é só vender um doce, é tocar a alma das pessoas”.
Nina Vieira, da Doce Amor Brigadeiros Gourmet, diz que o segredo “não é só vender um doce, é tocar a alma das pessoas”
Nina verificou que o maior desafio do segmento é criar produtos e combinações para fugir da mesmice. “É buscar entender o que o cliente quer e entregar algo melhor”.
Um dos últimos insights ocorreu numa semana de muita chuva, quando um influenciador digital não sabia onde comprar “bolinho de chuva”. Nos comentários da rede social foi possível perceber que não se encontrava na cidade algo caseiro, parecido com o que as avós faziam. “Vimos uma oportunidade de produzir algo que sempre fizemos em casa, e lançar um produto com memória de infância. Foi um sucesso, o produto esgotou rapidamente e com lista de espera para o outro dia”, comemora.
A empresária percebe que o mercado da alimentação oscila. “Na pandemia quem atuava com o delivery, acompanhou um crescimento extraordinário. No pós-pandemia teve leve queda de consumo, assim como no pós-eleições. Mas seguimos fazendo o nosso trabalho, adoçando as vidas e sonhando com o dia em que seremos a maior rede de franquias de brigadeiros do mundo”, diz Nina.
Cervejas artesanais
Há quase dez anos sócio da Cervejaria Cathedral, Marcelo Baptistella percebeu que o consumidor de cerveja passou a se informar mais sobre a cultura da bebida. Se antes o consumidor só conhecia as cervejas de supermercado de diferentes marcas, geralmente lagers, agora ele quer um produto de qualidade diferente e busca novos sabores.
A mudança ocorreu aos poucos. Desde quando Battistella começou a empreender em Maringá, ele encontrou um mercado mais maduro e até nos supermercados havia produtos de qualidade e sabores diferenciados. Porém, o consumidor ainda desconhecia o processo de fabricação e os tipos de cerveja. “Com o tempo, muitos bares começaram a apostar em produtos diferentes e de qualidade. Os consumidores ficaram exigentes e amadureceram devido o acesso à informação. Alteraram o hábito de consumo a ponto de não quererem voltar a consumir cervejas de massa, marcas comerciais das grandes cervejarias”.
A Cervejaria Cathedral, de Marcelo Baptistella, produz 15 mil litros de cerveja por mês e sempre inclui novidades, inclusive bebida com adição de frutas e sem álcool
Tais mudanças também se refletem na preocupação com a saúde. “É a primeira vez que as gerações mais novas bebem menos do que as mais velhas”, observa o empresário, que coordena o Núcleo de Cervejas Artesanais e atua no segmento de bares e restaurantes com duas unidades: o Cathedral Sports Bar e o Cathedral Fábrica Bar.
Outra tendência é a cerveja não alcoólica. Porém há poucas opções no mercado, somente estilo lager. “Não se exploram opções de cerveja escura maltada, amarga. Também se buscam cervejas com menor teor de álcool ou com adições de frutas”.
A própria Cathedral lançou vários sabores, um deles tinha extração de zimbro, um estilo finlandês. Também já produziu com maltes defumados que lembram sabor de bacon. É possível encontrar as fruit beer (com adição de frutas). Uma dessas cervejas - com adição de framboesa - tem o nome de Aurora, em homenagem à filha de Batistella. Outras têm adição de casca de laranja, semente de coentro...
A Cathedral produz 15 mil litros por mês e já ganhou cinco vezes o prêmio de melhor cervejaria do Brasil. O segredo é o foco na produção local para trazer o consumidor para beber a cerveja em Maringá. A opção tem um sentido: quanto mais operações são introduzidas na cerveja, o produto começa a perder o sabor devido a conservantes e pasteurização. Somam-se ainda as questões de logística e armazenamento. Tudo isso faz com que o produto perca a qualidade.
A cervejaria conta com três funcionários. Já os dois bares somam 36 profissionais registrados.
O programa Empreender – criado em 2000 - conta com 84 núcleos setoriais e multissetoriais. É por meio dele que os associados fazem capacitações, networking e projetos sociais, além de trocas de experiências dentro do lema ‘Unir para crescer’. São mais de 1,2 mil empresários entre os cinco mil que constituem a Associação Comercial. Para conferir os núcleos e as empresas participantes, inclusive dos núcleos mencionados nesta reportagem, confira em www.acim.com.br/empreender