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Geração Z: jovem, conectada e com novos desafios às empresas

Geração Z: jovem, conectada e com novos desafios às empresas

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Com linguagem quase própria, com gírias e abreviações, sempre conectados às novidades das redes sociais e aplicativos, eles têm uma forma espontânea de se comunicar e são ágeis em assimilar informações. São pragmáticos e autênticos. Não gostam de rótulos e levantam a bandeira da diversidade. Estes são os jovens da chamada geração Z, formada pelos nascidos entre 1995 e 2010.

O Brasil tem cerca de 30 milhões de jovens pertencentes à geração Z, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Até 2025, 27% da força de trabalho nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) serão profissionais da geração Z, de acordo com o Fórum Econômico Mundial, embora outros dados coloquem este número ainda mais alto.


Amanda Sampaio, coordenadora de RH: geração Z está preocupada com questões sociais e ambientais, apoia causas nobres, valoriza cultura em que haja no trabalho ambiente justo, igualitário e respeite as diferenças

Mais do que representar uma mudança nos padrões de pensamento e de comportamento, esta geração tem instigado empresas a repensar as relações de trabalho. “Eles estão preocupados com questões sociais e ambientais, apoiam causas nobres, valorizam uma cultura em que haja no trabalho ambiente justo, igualitário, que respeite as diferenças e valorize as relações humanas. Buscam satisfazer as necessidades financeiras sem perder o emocional”, destaca a coordenadora de Recursos Humanos (RH), Amanda Sampaio Cardoso, da ACIM.

Para atrair e reter esses jovens talentos, as empresas precisam investir numa gestão horizontal e adotar cultura de feedbacks. Também têm que oferecer oportunidades que favoreçam o crescimento pessoal e financeiro, ter horários flexíveis, um modelo de atividade em que eles possam ter independência.

Outro desafio é promover o ‘encontro de gerações’ no ambiente de trabalho. Há ganhos, garante a consultora, mas a tarefa não é fácil. “A junção de gerações possibilita pegar o que cada uma tem de positivo, mas eles têm pensamentos bem diferentes. Temos que pensar na posição de cada um e dar atrativos que atendam a todas as gerações”, diz. Ela sugere trabalhar a diversidade e o relacionamento por meio de ações de integração e troca de experiências.

Nativos digitais


Na liveSeo a idade média da equipe de mais de cem colaboradores é de 27 anos; “os jovens entendem o conceito de engajamento”, diz o sócio Lucas Maranho, que abriu o negócio quando tinha 25 anos

Esse grupo também estabeleceu novos padrões de comportamento no mundo digital. Afinal, nenhuma geração demonstrou um nível de proficiência ou conforto com a tecnologia em uma idade tão precoce quanto a Z. Além disso, busca um ambiente profissional dinâmico e interativo, onde possa ter autonomia na execução das atividades.

“É uma geração empoderada, criativa, inovadora e multitarefa. Os jovens conseguem finalizar um trabalho com mais rapidez, são produtivos e proativos, não ficam esperando pegar outra tarefa, gostam de se envolver com novos projetos e ter novos desafios”, destaca.

Diferente da geração anterior, dos millennials, que viu a internet nascer, a Z nasceu conectada, e não sabe como é viver em um mundo offline. Muito por conta disso é valiosa para as empresas de tecnologia de informação. A liveSEO é um exemplo. Fundada na Espanha em 2016, a agência se ‘consolidou’ no Brasil em 2018 e aqui se tornou referência quando o assunto é tráfego orgânico e vendas online.

“Fazemos com que o e-commerce ou blog dos clientes alcancem as primeiras posições nos mecanismos de pesquisa como o Google por meio  de otimizações técnicas em plataformas e na estrutura dos sites, pesquisa de palavras-chave e produção de conteúdo”, explica o sócio e CEO, Lucas Maranho.

E quem melhor para desvendar os ‘caminhos’ virtuais do que aqueles que nasceram conectados? Não à toa, a média de idade entre os mais de cem colaboradores da liveSEO é de 27 anos. “Por padrão, os jovens entendem o conceito de engajamento”, ressalta Maranho.

Há ainda outros critérios de seleção que ‘explicam’ a jovialidade do time de colaboradores. Para trabalhar na empresa é preciso dinamicidade, proatividade, transparência e busca constante por conhecimento. Em contrapartida, a equipe encontra um ambiente descontraído e favorável à inovação e ascensão à liderança. “Essa geração busca estabilidade financeira para conciliar sonhos pessoais e carreira, mas também busca ambientes onde possa expressar opinião e manifestar criatividade”, comenta o CEO.

Outro atrativo da empresa é a flexibilidade. A jornada de trabalho de 44 horas semanais é cumprida no modelo híbrido, exceto no período de experiência quando o colaborador fica 100% presencial. Ainda assim, a liveSEO não está imune a um problema recorrente no mercado: a falta de mão de obra. “Nossa maior dificuldade é encontrar profissionais qualificados e disponíveis em Maringá, bem como quem compartilhe dos objetivos e valores da empresa”, diz.

Para driblar a escassez, a empresa conta com um programa de recrutamento e formação batizado de Artemis, por onde passaram mais de 300 pessoas em Maringá e continua formando, em média, 160 profissionais por ano.

Isso é mais do que necessário, pois além de entregar profissionais capacitados para o mercado, contribui para solucionar a alta rotatividade, questão apontada como um dos pontos negativos da geração Z. “Criou-se um conceito de geração fast food por causa do imediatismo e da falta de clareza num plano de carreira”, comenta o CEO.

Postura compreensível nesta faixa etária, na opinião de Maranho. Ele mesmo tinha 25 anos quando apostou num sonho e fundou a liveSEO. Talvez por isso, mesmo acima da idade, ainda sinta simpatia e identificação por esta galerinha.

Ambiente descontraído


Na The Digital Eden os 14 colaboradores trabalham de forma presencial e a maioria tem entre 26 e 29 anos; na foto Karina Botura, analista, e Bruna Estrella, CEO

Mais apegada a experiências do que a questões materiais, os profissionais da geração Z não precisam de escritórios luxuosos para serem mais produtivos, mas são seduzidos por espaços criativos e aconchegantes como o da The Digital Eden (TDE). Instalada no centro empresarial José Barão, a agência de marketing digital mescla áreas instagramáveis e verde, numa espécie de jardim digital. 

“Todos os colaboradores compartilham o ambiente, temos ‘ilhas’ separadas para cada equipe, porém no mesmo espaço, o que acaba nos tornando próximos. Trabalhamos com foco e dedicação, mas também temos momentos de descanso e descontração, com alongamentos, cafés, risadas e bate-papo”, diz a analista de Recursos Humanos, Karina Botura. 

O clima organizacional descontraído ‘compensa’ a jornada 100% presencial. Os 14 colaboradores, com faixa etária predominante entre 26 e 29 anos, batem ponto de segunda a sexta-feira das 8h às 18h, com intervalo de almoço de 1h30. O home office surge como alternativa para situações pontuais ou momentos de necessidade. 

“Respeitamos o tempo de desenvolvimento de nossa cultura empresarial e ainda não nos sentimos prontos para a implementação de um sistema híbrido ou home office. Não há nada comparado ao relacionamento ‘olho no olho’”, pontua Karina.

Este contato próximo ajuda a disseminar uma regra básica e valiosa: é preciso plantar para colher, um ensinamento fundamental, segundo a analista de RH, diante do imediatismo característico desta geração. “Todos precisamos de doses constantes de reconhecimento, mas vemos que, justamente por ter uma cabeça que funciona de forma acelerada, os mais jovens buscam esse reconhecimento de forma imediata, por vezes deixando de lado uma das regras básicas da vida: o processo de colheita será resultado de plantio e cuidado”, ensina. 

Soma-se a isso o momento atual do mercado de trabalho que, além da transição geracional, passa por adaptação ante a infinidade de tecnologias que influenciam diretamente as escolhas profissionais. “A sede pelo que é novidade tomou conta do mercado, e isso faz com que encontrar pessoas comprometidas e dispostas a enfrentar o desafio da constância no longo prazo seja um imenso desafio”, completa Bruna.

Pesa, ainda, o fato da divisão imaginária que se fazia entre a vida pessoal e a profissional ter sido desconstruída à medida que a “jornada de trabalho” da nova geração passou a estar mais integrada do que nunca. “Diferente das anteriores, esta geração não vê o trabalho exclusivamente como fonte de sustento, mas com forte senso de vocação e propósito. É uma geração dinâmica, que preza pela liberdade, está sempre em busca de reconhecimento e tem aflorada a necessidade de pertencimento. Todos esses pontos têm vertentes maravilhosas de motivação e inspiração, mas podem ser fonte de frustrações”, alerta a CEO da The Digital Eden, Bruna Estrella. 

Para ela, é papel das empresas ter maturidade e estrutura para acolher e direcionar o desenvolvimento desses jovens profissionais. E, consequentemente, usufruir do que eles têm de melhor: proatividade, autonomia, criatividade, velocidade e pensamento dinâmico, além, da qualidade técnica. “Isso é extremamente importante e valioso em nosso meio, já que, para entregar os resultados esperados para os clientes, precisamos estar em evolução e adaptação com a dinamicidade do mercado digital”, finaliza Bruna. 

De portas abertas 


Gilmar Leal Santos, franqueado de sete lojas do McDonald´s, com geração de 500 empregos: “nenhum gerente é contratado de fora, são pessoas que começaram como atendentes e foram promovidas”

Se tem um lugar onde a geração Z é bem-vinda, tanto na frente quanto atrás do balcão, é no McDonald’s. Há algum tempo a empresa figura entre os principais empregadores de jovens do país e ocupa o posto de maior gerador do primeiro emprego em território nacional. Em Maringá, a rede emprega 500 colaboradores, sendo que a maioria tem entre 16 e 25 anos. “A média de idade dos nossos colaboradores é de 20, 21 anos. Muitos chegam sem experiência, às vezes até sem documentos e não têm noção de como funciona um trabalho formal”, conta o empresário Gilmar Leal Santos, franqueado do McDonald’s, acrescentando que isso não é critério eliminatório. Para conseguir uma vaga nas sete lojas da rede em Maringá, são considerados diferenciais a disciplina e o respeito a hierarquia. “Sou adepto da disciplina e sei o quanto é difícil, mas é necessário. Se não tem disciplina e não respeita a hierarquia, não serve para trabalhar no McDonald’s”, afirma.

Fora isso, a empresa está de portas abertas à geração Z, que tem a seu favor a agilidade e disponibilidade para aprender. “Eles têm a mente aberta”, enaltece o empresário. 

Além disso, valorizam o respeito à diversidade e a equidade. No McDonald’s não há distinção de raça, sexo e orientação sexual. “Fomos a primeira empresa a contratar uma trans com nome social. Evidente que tem clientes que não gostam, mas não vou deixar de contratar ou promover o colaborador por causa disso. Estamos inseridos numa comunidade e nossos colaboradores têm que fazer parte dela”, pontua Santos.  

Esta geração também valoriza a possibilidade de carreira e a oferta de treinamentos. A empresa oportuniza o crescimento profissional, tanto por meio de capacitações quanto de planos de carreira. “Nenhum gerente é contratado de fora, são pessoas que começaram como atendentes e foram promovidas na empresa. Três gerentes começaram com 16 anos e passaram por todos os cargos até chegar à liderança”, conta. 

O empresário, entretanto, reconhece que muitos não nasceram para fazer carreira no McDonald’s ou outra empresa, e não vê problema na falta de ambição por cargos de liderança. E tampouco na opção pelo empreendedorismo ou por correr atrás de oportunidades. “Ouço muitos dizerem que esta geração não quer trabalhar, que não está interessada em nada, só quer saber de videogames e mídias sociais. Não concordo. É, sim, uma geração de mídias sociais e suscetível à velocidade da informação e à oferta de oportunidades. Os jovens querem viver o presente, sem pensar como será daqui a 40 anos. Respeito e procuro entender”, diz. 

O empresário também compreende a resistência da geração à jornada de trabalho aos fins de semana, que chega a pesar mais na decisão na hora de escolher o emprego do que o salário. “Não é o dinheiro que conta, até porque o McDonald’s paga bem. O fim de semana ‘pega’ porque eles querem ir para a balada se divertir”. 

Por conta disso, a empresa tem dificuldade para preencher as vagas e a rotatividade acaba sendo alta. O tempo de permanência depende da função. No caso dos atendentes, a média é de oito meses. “É uma questão de fluidez, mas nem por isso esses jovens devem ser estigmatizados. Até porque, quando há conflito de gerações, cabe a nós entender e pacificar”, conclui.


Geração empreendedora


Por oportunidade, Eloísa Bortoluzzi, de 24 anos, abriu a Feitoah com a irmã e hoje emprega mais de 70 colaboradores

Por muito tempo, os millennials (nascidos entre 1980 e 1994, em média) foram considerados a geração empreendedora. Mas este posto está ameaçado pela geração Z e seu latente desejo de independência financeira. Soma-se a isso a sagacidade dos jovens quando o assunto é aprender sozinho e com rapidez. Além disso, são criativos, autênticos e ‘tecnológicos’. 

Com este perfil, o empreendedorismo surge como opção, a exemplo de Eloísa Bortoluzzi, de 24 anos. Quando estava na faculdade, cursando Engenharia de Produção, ela vislumbrava uma carreira como empreendedora, mas antes tinha planos de trabalhar com carteira assinada, de preferência em uma multinacional. Entretanto, foi atraída por um convite da irmã.  

“Sempre gostei do empreendedorismo. Mas queria passar por algumas experiências. Só que quando me formei, surgiu uma oportunidade de empreender. Minha irmã mais velha, que estava com uma marca própria de roupas femininas, me convidou para começar o negócio”, conta. 

Foi assim que surgiu a Feitoah, em novembro de 2021. A ideia para o negócio veio com um anúncio de uma rede de lojas para seleção de fornecedores de roupas. Depois outras oportunidades surgiram e as irmãs decidiram chamar dois sócios para investir no projeto de private label.

A empresa tem como público-alvo redes de lojas em todo o Brasil, mas a jovem empreendedora não descarta a abertura de mercados externos. O volume de produção é de 25 mil peças de roupas por mês, tanto malharia quanto de tecido plano - a Feitoah conta com equipe de 74 colaboradores. 

Diferente de Eloísa, a maioria das colaboradoras não faz parte da geração Z: a média de idade da equipe é de 38 anos. Apesar da diferença, o convívio é harmônico. Mas será que mesclar as gerações na linha de produção daria certo? “Acredito que é possível, mas desafiador. Seria preciso encontrar pontos em comum para que haja troca de conhecimento. Também seria necessário oferecer treinamentos comportamentais para que cada um consiga entender e valorizar as diferentes gerações, promovendo um ambiente que estimule e crie empatia entre os colaboradores”, opina. 

Até porque, segundo a empresária, a geração Z é mais ansiosa e tem dificuldades para lidar com frustrações e aceitar críticas. Por outro lado, domina a tecnologia, é comunicativa e gosta de expor opiniões. “É uma geração que busca empresas que tenham propósitos, espaço para inovação, tomada de decisões, horários flexíveis e preza pelo feedback para o crescimento pessoal e profissional”, resume, profetizando o próprio futuro. “Quero entregar o meu melhor como gestora e tenho certeza que muitas oportunidades aparecerão. Quero olhar para trás e ver que tudo valeu a pena, tanto pessoalmente como profissionalmente”, conclui.