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A reinvenção para sobreviver

A reinvenção para sobreviver

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Consultores de gestão apregoam a importância da reinvenção do negócio. Na prática, empreendedores precisam ser ágeis para implantar mudanças em meio a uma pandemia e criar formas das pessoas consumirem seus produtos e serviços. Fácil não é, mas também não é impossível. Que o digam as irmãs Talita Lopes e Natasha Lopes, que da noite para o dia viram o faturamento da Black Heels despencar para quase zero no início da pandemia. Especializada em produtos de maquiagem, a empresa foi fortemente impactada pela suspensão das atividades do setor de festas e eventos, um dos mais afetados pelo isolamento social.

“No primeiro mês da pandemia o faturamento da loja foi quase a zero e nos meses seguintes não chegou a um terço do necessário para cobrir os custos. Fomos muito impactadas, principalmente porque, sem eventos presenciais, os maquiadores praticamente pararam as atividades”, desabafa Talita.

De acordo com pesquisa divulgada pelo Sebrae em abril, 88% dos micro e pequenos empresários do Paraná tiveram diminuição do faturamento por causa dos reflexos da crise causada pelo novo coronavírus. Mais da metade registrou queda mensal superior a 50%.

No caso das irmãs Lopes, o jeito foi recorrer à criatividade para seguir com a missão de transmitir boas sensações por meio da autoestima e beleza. “Nossa ideia não é vender o produto, mas mostrar às pessoas o quanto é gostoso e fácil cuidar da imagem no dia a dia. Priorizamos um atendimento diferenciado, indicando produtos de uma maneira personalizada”, diz a empresária.  


Além da variedade de marcas nacionais e internacionais, a Black Heels, que tem sete anos, destaca-se pelo protagonismo na criação do primeiro co-beauty de Maringá, um espaço destinado aos profissionais da beleza, a custos baixos, para a realização de produções, atendimentos, cursos ou treinamentos. Lá também acontecem cursos vips de automaquiagem, testes de temperatura e coloração da pele, workshops de autoimagem e produções. “Essa ideia surgiu para darmos suporte aos maquiadores e fidelizarmos o público”, explica Talita. 

Aliás, o contato próximo com a clientela, em especial com as integrantes do Clube Black de Maquiadores, está entre as estratégias adotadas pelas irmãs para reerguer o faturamento. Outra foi a aceleração do projeto de vendas online, trocando o sistema para um omnichannel, para marcar presença em marketplaces. Para tanto, elas contaram com a ajuda de assessoria especializada no ramo. “Hoje nosso principal meio de faturamento é online”, conta Talita. 

As empreendedoras também transferiram para o universo online alguns serviços, a exemplo do curso ‘Como dar curso de automaquiagem’. E foi da internet que veio a inspiração para o pacote de maquiagem com fotos profissionais, ofertado por meio de uma parceria com Vidal Balielo Junior. 

“Com essa parceria conseguimos valores acessíveis. Empresários e usuários de mídias sociais estão aderindo ao serviço para renovar as fotos de uma maneira moderna para divulgações”, comemora a empresária. 

O próximo passo é inovar explorando mais o conhecimento da irmã e sócia em relação à colorimetria e visagismo. Além de maquiadora, Natasha é especialista nessas áreas que utilizam as cores e linhas na maquiagem como ferramentas para valorizar a beleza de cada rosto.

Clube de assinatura e kits

O casal Aline Garcia e Clayton Adami colocou em prática diferentes e criativas estratégias para manter o fluxo de caixa e a equipe de colaboradores da La Piccola Pizzaria. No mercado desde abril de 2009, a pizzaria conhecida pelo cardápio gourmet e ambiente intimista viu o tíquete médio despencar cerca de 80% com a impossibilidade do atendimento presencial. Foram 57 dias atendendo apenas por delivery.

“O impacto maior não foi no número de pizzas, mas nos acompanhamentos. Porque quando o cliente vem aqui, além de saborear a pizza, ele bebe vinho, coquetel ou cafezinho. Experimenta uma sobremesa”, explica Aline       

A solução para equilibrar as contas e capitalizar o negócio foi recorrer ao modelo de clube de assinatura. E o retorno foi acima do esperado. Em poucos dias o La Piccola Club Gourmet  contava com 50 adesões. Os planos semestrais ou anuais, nos valores de R$ 330 e R$ 600 à vista, garantem pizzas exclusivas mensais aos assinantes.   

“São pizzas especiais que no cardápio custam mais de R$ 70. Em uma das edições fizemos salmão com molho meunière”, conta a empresária, acrescentando que o assinante tem a opção de retirar o pedido no balcão ou consumir no local. 

E por falar em cardápio, são mais de cem opções, todas receitas próprias do casal e preparadas com produtos preferencialmente da horta orgânica mantida na pizzaria. “Temos como bandeira a sustentabilidade, então as ervas e temperos são produzidos na nossa horta”.

Sustentabilidade, aliás, é o diferencial do kit de coquetéis criado pelo casal. No gim box ‘mais ecológico’ do mercado, como faz questão de destacar Aline, a bebida vai acompanhada de dosador, colheres e pinças para o preparo dos drinks. O detalhe é que os acessórios são confeccionados com bambu, mesmo material dos canudos ecológicos disponibilizados aos clientes.  

O kit de coquetéis, no entanto, não foi o único produto lançado durante a pandemia para reforçar as finanças da empresa. Depois vieram a caixa de temperos e a caixa de biscoitos amanteigados, esta última uma receita de família. “É minha mãe quem me ajuda na fabricação”, explica. O detalhe é que as bolachas são delicadamente decoradas com flores naturais comestíveis e vão acompanhadas de uma geleia artesanal. “São boas opções de presente e têm ajudado a aumentar o tíquete médio”, ressalta.  

Outra contribuição importante vem das filhas do casal. Com as aulas presenciais suspensas, Aynara, 13 anos, e Valentina, 8 anos, têm ficado mais tempo na pizzaria e aproveitado o período ‘ocioso’ para personalizar as embalagens da La Piccola com desenhos e recadinhos para os clientes.   

“Essa ação das meninas repercutiu muito. Agradecidos pelo carinho, os clientes acabam postando as embalagens nas redes sociais, o que dá visibilidade à pizzaria”, finaliza a empresária, confiante em dias melhores.


Foco no delivery

Quando inaugurou, em março de 2019, o foco da Jon Pizza Co. era o atendimento presencial. Era no badalado salão da pizzaria, confortavelmente acomodados, que os clientes se deliciavam com as saborosas pizzas artesanais doces e salgadas. “O produto e os processos são artesanais e complexos. Focávamos no salão para garantir a entrega com 100% de qualidade”, justifica o empresário Jonathan Yu Yamaue, que é o criador das receitas.  

Apaixonado por pizza desde a infância, Jon decidiu transformar a paixão em negócio. O pontapé foi em 2012, quando estava na faculdade e elaborou um plano de negócio de uma pizzaria com modelo diferenciado. Para tanto, buscou inspiração fora. Foram várias viagens para Estados Unidos e Europa à procura de sabores e técnicas ainda inéditas no Brasil. 

“Aprendi a fazer pizza em casa e realizei milhares de testes até chegar à receita atual. Foram várias rodadas de pizzas para amigos na sacada do meu apartamento, usando um forno de churrasqueira adaptado de alta temperatura”, recorda.

O resultado são pizzas artesanais e individuais, em média de 25 centímetros, feitas com massa de longa fermentação que rapidamente conquistaram o paladar dos maringaenses. Não demorou para que o endereço na avenida Horácio Raccanello Filho, 4825, se tornasse referência. 

Mas aí veio a pandemia e o empresário viu o salão esvaziar. Obrigado a fechar as portas por um período e se adaptar às regras dos decretos municipais, ele precisou mudar a estratégia do negócio. O foco que era 90% no presencial passou a ser 100% no delivery ou retirada no balcão. A entrega, que antes era feita por aplicativos, teve que ser reforçada com a oferta de serviço próprio. 

O isolamento social elevou as vendas em 30% em média. Nos finais de semana a alta chega a quase 80%. O público é, na maioria, famílias que têm a opção de cada um escolher seu sabor preferido, já que a pizza é individual. São 14 sabores salgados e dois doces. 

Para atender à crescente demanda, foi preciso investir em um forno que tem quase o dobro do tamanho do antigo, na ampliação da estrutura e na contratação de colaboradores. “Com o aumento inesperado de pedidos, tivemos que aumentar a capacidade de produção para melhorar o atendimento e diminuir os atrasos na entrega. Por ser artesanal, produzimos o pedido minutos antes de sair para a entrega para garantir a qualidade”.

Para fazer os investimentos, o empresário recorreu a um financiamento avalizado pela Noroeste Garantias. “Não estávamos preparados para investir na 

pizzaria atual porque estávamos concluindo a execução do nosso projeto de expansão”, conta Yamaue, referindo-se à unidade de Londrina, prevista para ser inaugurada neste mês. 

Também estão nos planos a retomada do atendimento presencial para que os clientes, os antigos e novos, possam redescobrir a satisfação de saborear uma pizza direto do forno para a mesa.

Música para os ouvidos

Aos poucos a música vai tomando conta do ambiente novamente. Os sons que ecoam pelos corredores e salas da ADM Academia de Música são os mais variados: do piano ao teclado, passando pelo violino, saxofone e flauta doce até violão e a viola. Tem também guitarra, contrabaixo e bateria. A eles se juntam a animação da sanfona e do ukulele.   

Não há música melhor para os ouvidos do músico e educador musical Osmar Pereira, um dos sócios da escola de música inaugurada em 2017, juntamente a Rogério Fernandes, com apoio e gestão de Daiane Cortones e Fernanda Rodrigues. Em especial depois de um período de silêncio total, imposto pelos decretos municipais, que fez o faturamento da escola cair significativamente.

“Tivemos redução da grade de atendimento e do quadro de colaboradores, limitação de permanência de pessoas nos nossos espaços, além da suspensão das aulas em grupo, modificação do calendário escolar e cancelamento de eventos”, lamenta Pereira.

Felizmente, já há motivos para comemorar. Depois de desistências, o número de alunos está próximo dos aproximadamente 450 que a escola tinha antes da pandemia. Muitos vieram atraídos pelas campanhas promocionais realizadas pela escola, como a de descontos no ato da matrícula para qualquer curso e principalmente a que viabilizou a compra de violões a preços simbólicos. 

As aulas de violão popular, aliás, estão entre as mais concorridas ao lado das de teclado, piano e bateria. Também é grande a procura pelas atividades de técnica vocal e musicalização infantil - a escola atende alunos de todas as faixas etárias, até bebês, e conta com 20 colaboradores. 

Além das campanhas promocionais, a implantação de aulas online repercutiu positivamente, apesar das barreiras iniciais. Pereira cita a dificuldade de manter a excelência da aula presencial no ensino remoto e a falta de habilidade de alguns com a tecnologia, mas ressalta a necessidade de adaptação. “É fato que a influência da tecnologia vai acelerar nos próximos anos”. 

Prova disso foi o sucesso das campanhas de divulgação e das lives realizadas por meio de plataformas digitais. “Nas apresentações, com a participação dos professores e alunos, conseguimos divulgar os nossos módulos de ensino”, comemora.  

Pereira cita outros pontos importantes para a retomada do negócio, entre elas as ações conjuntas organizadas pelo Núcleo Setorial das Escolas de Música de Maringá (Núsica), do programa Empreender da ACIM, do qual é conselheiro e integrante. 

Por enquanto, o atendimento segue o modelo híbrido, com parte dos alunos presenciais e o restante no ensino remoto. Até porque as aulas foram retomadas na sede que fica na avenida Mandacaru. Nos espaços anexos aos parceiros Colégio Santa Cruz, Colégio Regina Mundi e Escola Criarte continuam suspensas. 

E em breve a ADM contará com nova unidade, que funcionará em um espaço de 600 metros quadrados no centro. “Estamos nos preparando para a inauguração. Almejamos melhorar o nosso serviço e continuar entregando acima de tudo bem-estar e música para a vida das pessoas”, finaliza.